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ATÉ QUANDO?
 
Você sabe quando uma coincidência é tão evidente e não pode ser desprezada?
Pois é, foi por causa de uma coincidência que eu comprei o livro de Elizabeth Gilbert, cujo título é “comer, rezar e amar”. Apesar de sempre eu comprar livros, esse teve um sabor muito especial. Ando precisando  ignorar os meus pensamentos “abusivos” (descobri isso com ela) presentes em minha mente inquieta e os meus sentimentos delirantes, visitantes inoportunos em meu coração.
 
 De alguns meses pra cá, razão e emoção andam se digladiando em minha alma. Já não sei mais a quem dar abrigo. Só sei que ando precisando de colo e detesto quando isso acontece. Tenho longa experiência em superar obstáculos, mesmo os emocionais. Já passei por duras provas na vida e, mesmo arrasada pelos fatos, nunca me deixei soterrar. Mas desta vez, parece que perdi o fio da meada e fiquei presa no resto dos fios que consegui embolar. Estou parecendo um bichinho caído numa teia de aranha, tentando se soltar. E quanto mais tento me desvencilhar dessa teia, mais fico presa.  Isso tem me assustado.
 
Será que esqueci as minhas forças em algum lugar? Aonde? Eu me pergunto. Chego a me sentir culpada por cogitar estar com pena de mim mesma. Será? Cadê os meus refúgios tão bem cuidados, meus esconderijos tão iluminados pela lua cheia?  Será que tiraram minha lua da tomada? Todas essas perguntas imbecis andam passeando dentro de mim.
 
E foi por causa disso que eu encontrei com Elizabeth Gilbert. Fui buscar respostas nas suas experiências. Como ela, eu ando fazendo promessas para mim mesma de só abrigar pensamentos saudáveis. Mas quem disse que isso é possível neste momento? Minha cabeça anda parecendo um vulcão jorrando larvas e cuspindo fogo. No meu coração os sentimentos se tornaram obsessão. Tudo isso só por causa de um amor desfeito, não no meu peito, mas no peito de quem um dia me roubou a solidão.
 
O encontro com Elizabeth tem sido um pequeno conforto, nesse meu declínio, nesse meu escorregão ladeira abaixo. Apesar dela  ser mais nova do que eu, ela me dá a certeza de que qualquer ser humano, na face da terra, pode sucumbir, em algum momento, diante dos fatos da vida, independente do tamanho desse fato. 

Eu e ela temos muitas coisas em comum. Tão comuns, que em algumas partes do livro eu mesma poderia tê-las escrito. 

Como ela, sou inquieta, falastrona, adoro arte, tenho necessidade de escrever, amo os amigos, até os chatos. 

Como ela, eu posso ler a alma das pessoas e saber o que vai dentro delas. Além disso, eu sou capaz de ouvir quem quer que seja quando precisa de mim. Acho graça, quando recebo telefonemas de amigos perguntando se eu tenho ouvidos naquele momento para eles. E eu sempre tenho. Meu telefone não tem nenhum pudor em tocar nas madrugadas.
 
Como ela, tudo que eu quero incessantemente e insistentemente, o tempo todo, é Deus dentro de mim, independente de dogmas. Como ela eu passo fax, telefono, mando torpedos, escrevo e-mails para ele. Como ela, eu também gostaria de ser uma pessoa quietinha, meditativa ( no entanto, ela me convenceu que isso não tem jeito). Deus me fez assim e me quer assim.
 
Nos últimos dias, Elizabeth tem sido a minha amiga mais próxima. Já ficamos tão íntimas e ela me fascinou de uma maneira que, se bobear, sou capaz de ir para asham na Índia só para tentar descobrir a resposta para uma dura e cruel pergunta dentro de mim - até quando?

Até quando alguém pode suportar amar outro alguém precisando esquecê-lo? Até quando alguém pode se iludir esperando um telefonema dizendo: você me faz tanta falta? Até quando alguém pode acordar às quatro da manhã, todas as manhãs só porque nesse horário seu amor ligava pra você? Até quando alguém pode ficar imaginando um encontro com seu  amado cheio de ternura? Até quando esse alguém pode suportar as noites de sextas-feiras vazias? Até quando alguém tem o direito de se enganar e ficar esperando um e-mail cheio de carinho? Até quando alguém consegue sentir um perfume especial sem se desesperar?
 
E é assim que eu ando vivendo. Tentando esquecer os cheiros, os lugares, as alegrias, os carinhos, as palavras, as promessas, as ternuras, as noites, os planos, as viagens.  Isso Elizabeth não me respondeu até quando.