O OURO DE MAURREN.
ANA MARIA RIBAS BERNARDELLI.


Maurren não é uma atleta comum, e não afirmo isso  pela medalha de ouro que acabou de conquistar. Os argumentos que vou defender, farão de mim a comentarista de uma visão direcionada, e essa visão nada tem a ver com esporte. Tem a ver com intuição, com percepção, com a capacidade de saber apenas sabendo. E sabendo sei. Nunca contarei com unanimidade nas opiniões que sustento com embasamento apenas perceptivo. Só os intuitivos entenderão a  subjetividade do fato. Para esses ofereço esta crônica completa, para os demais ofereço os fatos, e para Maurrem  o título de Atleta do Ouro de Deus.  Vamos nessa?

Maurren não é uma atleta comum, e explico porquê:   os momentos decisivos em sua vida, foram feitos de vitórias e de derrotas, ao contrário da grande maioria dos atletas, em que os momentos decisivos, foram sempre de vitória.
 
Os desportistas, de uma maneira geral,  provam tanto a vitória quanto  a derrota, e  perder é parte inerente ao ofício.  Mas Maurren não só perdeu, Maurrem desistiu. Ficou 3 anos sem treinar e abandonou o esporte, tempo suficiente para experimentar a maternidade,  amadurecer,  e conhecer-se,  não apenas até os limites do  corpo, mas também da  alma, e quiçá do  espírito. 

Seu olhar tranquilo e sua fala calma, mansa e pausada, revelam mais que temperamento, revelam sentimentos.  No mundo espiritual, leva-se anos para conquistar o ouro - anos de frustração, submissão, reverência, e abandono nas mãos de Deus. Então se ganha esse jeito de olhar para o mundo e se recebe de volta, quase nada - apenas o brilho de uma luz que se destaca. Esse brilho é o ouro de  Deus.

Maurren é uma pessoa que soube ver a mão de Deus em seus caminhos, e essa visão é a grande responsável pela consagração.  Agradou a Deus dar o ouro a Maurren. E Ele deu, com a diferença de hum  centímetro.

 Eu aprecio muitíssimo esse detalhe de Deus: Sendo tão grande, Ele gosta de se revelar em hum centímetro. Coisa linda por demais.

 Se para o salto a distância, hum centímetro faz a diferença entre o ganhador e o perdedor, para Deus, hum centímetro é apenas uma declaração de amor. Deus disse a Maurrem: "Há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há tempo de ser humilhada, e tempo de ser exaltada. Há tempo de receber desconfiança e ceticismo, e há tempo de colher aplausos apogísticos. Há tempo de ganhar Sophia e há tempo de ganhar Pequim, o Brasil e o mundo. Como em Eclesiastes, há tempo para tudo."
 
Tudo bem, sei que os céticos dirão: "ela treinou duro". Mas ela treinou como vendo o invisível. Qualquer pessoa que tenha um mínimo de discernimento espiritual, soube distinguir nas declarações dessa jovem, antes da ida a Pequim, a mesma disposição férrea que pôde ser encontrada nas palavras do apóstolo Paulo, acerca da sua trajetória cristã: " Portanto, corro, não como indeciso; combato não como combatendo no ar."( 1 Cor. 9: 26).

A carta que entregou aos seus treinadores, momentos antes da vitória, confirmam a tese de que,  se sabia vencedora, por esse saber interior que o Espírito de Deus concede, àqueles a quem Ele deseja conceder. 

As manchetes confirmam que Maurrem previu a final. Ninguém escreve uma carta de agradecimento, antes de receber a recompensa. Mas Maurrem escreveu. Em  pressentindo a vitória, em tempo anterior  à  melhor marca do mundo desta temporada, Maurrem recebeu a medalha de ouro das mãos de Deus, antes de recebê-la das mãos dos homens.

Senão vejamos: na vida dessa campeã, houve momentos em que a vitória virou o jogo, mas também houve momentos em que a derrota foi a responsável pela grande virada. Essa paulista de São Carlos, tem em seu histórico  uma estranha curva descendente que, de repente, como que impulsionada pela trajetória da própria descendência, faz uma pirueta fantástica que a leva de novo para cima e para o alto. A física deveria  ter um nome para esse evento,  mas não tem, porque ele é apenas espiritual. Não dá para nomear, dá  para sentir e observar.
 
Ela admite isso. Ao embarcar a Pequim,  Maurren tinha no semblante a serenidade de quem soube ver que "todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus." Atribuiu  a dolorosa experiência de ter sido flagrada e punida no exame antidoping -  pelo uso de uma pomada cicatrizante, -  como estratégia de Deus para lhe presentear com sua filha Sophia. E aventou a fé de que, aquEle que lhe dera Sophia, poderia ter um grande projeto pessoal, para ela, em Pequim.

A isso se chama visão espiritual. A visão carnal não se contenta com nada menos do que o sucesso. Se tem o sucesso, tem o entendimento e a perspectiva adequada, de acordo com os padrões do mundo. Sucesso é bom e eu quero - pensam os carnais.  Mas a visão espiritual descortina horizontes que nenhum pódio, por mais alto que seja, pode oferecer. Desse pódio invisível  o "atleta"  recebe a vitória, enquanto ainda percorre o estreito e solitário  vale da derrota. 

Nesse sentido, a vitória de Maurrem foi a vitória de Deus. Nesse sentido, a medalha de ouro de Maurrem tem algo do brilho magnífico do ouro de Deus.

Por esse ouro, - pelo menos para mim,  comentarista esportiva a serviço da BBC do Céu - por esse ouro, Pequim valeu a pena.


* Imagem pesquisada no google.