"1808"- Um livro fermentado =Crônica=

Li neste fim de semana o livro “1808”, de Laurentino Gomes. Comecei no sábado e terminei no domingo à noite. Quem vê o livro nas vitrines de livrarias, ou anunciado pela tevê, duvida que ele possa ser lido em tão curto espaço de tempo. Pode sim. Não só pode como até prescinde de uma leitura às pressas, contínua, em ritmo alucinado. Dá pra ler tranqüilamente em apenas dois dias. Se tanto.

O livro é bom, o conteúdo é ótimo, a apresentação é linda, o assunto é bem abordado, a linguagem usada é accessível, a leitura é cômoda, a capa é belíssima, mas é um livro “fermentado” para impressionar visualmente o consumidor: a grossura dele, que tem apenas 414 páginas, é a mesma do “O Livro de Ouro da História do Mundo”, que tem 812 páginas. Ou seja, as duas obras têm 4,5 centímetros de espessura cada uma, mas nem por isso “O Livro de Ouro da História do Mundo” deixa de ter uma excelente diagramação, de oferecer conforto para a leitura devido ao tamanho dos tipos, além de um bom espaçamento entre as frases.

É fácil para as editoras “fermentar” um livro, fazê-lo dobrar de espessura para impressionar o leitor: basta utilizar papel grosso, letras grandes, espaços maiores entre as linhas, papel ainda mais encorpado para as ilustrações, tudo isso somado a muitas páginas finais de cada capítulo com pouco conteúdo.

A História do Brasil e a História do Mundo sempre me fascinaram. Sempre gostei de lê-las. Por isso gostei de ler “1808”. Um livro importante que um dia espero ver em uma edição popular, honesta, destinada ao público em geral.

Em resumo: torço para que “1808” não fique apenas nesta versão enfeitadora de prateleiras, tipo “grande embalagem para pequeno conteúdo”. Um livro para a madame comprar no shopping porque está na moda, fingir que leu, colocar na estante e um dia, cansada de vê-lo ali, jogar fora ou doar para um bazar de caridade.

Em tempo: peguei-o emprestado com um de meus irmãos. Se o tivesse comprado e pago os R$39,90 , preço de capa, talvez esse meu artigo ficasse um tanto quanto mal educado. Eu teria a impressão de ter comprado uma caixa com vinte e cinco bombons e dentro dela encontrar apenas uns onze ou doze.

Ps: Quem ainda não leu "A República dos Bugres", de Ruy Tapioca, e "São Paulo, Capital da Solidão", de Roberto Pompeu de Toledo, não sabe o que está perdendo. Os dois são do tipo que a gente lê pensando já na releitura depois de algum tempo.

Outro Ps: Comentei com um dono de livraria sobre o pouco conteúdo do "1808" e ele, sem falar nada, pegou outro livro e me entregou. Folheei o livro, de autoria de Zíbia Gasparetto, e fiquei impressionado com o que vi: letras imensas, imensas mesmo, como as de livros infantis, para preencher a falta de conteúdo. A um ponto que só posso definir, e defino, com uma só palavra: SAFADEZA. Fininho demais, quase sem nada a dizer, não venderia. E isso não pode...

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 25/08/2008
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T1144910
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