O BEBÊ NO ARMÁRIO

Fiquei muito feliz quando ocorreu minha concepção,considero-me um presente de Deus.A partir desse dia comecei a perceber as pessoas em volta de mamãe.Sempre disseram que é querida na cidade pequena em que morava.Mulher dedicada,estudiosa.Respeito,uma palavra mais que adequada para ela.Bem jovem,estudou em uma universidade de uma das maiores cidades do mundo.Muito expansiva,conquistava amizades muito rapidamente.Cursou...foi uma das melhores alunas da faculdade.Tinha muitos sonhos,um deles aprender inglês,para isso conseguiu viajar para os Estados Unidos.País com enorem potencial econômico e parada daqueles que querem ganhar mais dinheiro,ajudando assim os que ficam.

Ao chegar a América,pensava conquistá-la.Todos querem isso,ficam deslumbrados com tamanha oportunidades oferecidas.Conseguiu um emprego como baby-sister de uma família acolhedora,receptiva e amorosa.

Algumas amigas dela tinham ido com o mesmo objetivo,nesse grupo estava o namorado.Mamãe passou a comer demais,difícil resistir à gula diante de tantas tentações gastronômicas.Os filhos dessa família a amavam muito,como não poderiam?A gentileza,carinho,prestatividade eram avidentes nela.

Em uma das folgas,saiu com as amigas e o namorado.É nesse momento que efetivamente surjo.Não sei por que ninguém foi comunicado que estava dentro dela?Vivia feliz esperando o momento de aparecer para o mundo.Ser amamentado,receber carinho da família,ouvir papai contando historinhas para formar minha personalidade eram anseios duvidosos.Percebi que mamãe estava muito tensa ultimamente e não celebrarem minha existência era de se estranhar.Será que as pessoas ignoram o filho no ventre?Meu pai sabia de mim?Enquanto fazia inúmeras reflexões,ela continuava a rotina normalmente.Ei mãe,estou aqui fala comigo,não me deixe assim...

Quando tudo parecia tranquilo do lado de fora,ouço-a fazendo uma oração sentida,comovente.Uma frase fez-me estremecer"perdoe-me filhinho,é a única saída" calma,não há o que perdoar conversa mais,em seguida tomou alguns comprimidos.Deviam ser potentes,pois não era de eu nascer.Ela se manteve em silêncio o tempo todo.Como pôde se a dor era dilacerante em mim?Não tive como me defender,nem esboçar um choro pude.Enrolou-me em um lençol,ainda respirava bem fraquinho,colocou-me em um armário,retornando para a cama logo emseguida.Nesse momento,o menorzinho da casa entra,vê o quarto sujo de sangue,sai gritando em busca da mãe dele.Tentei pedir ajuda,ela ficou sem reação,desesperada diante disso.Será o fim dos sonhos dela?Os meus com certeza,pois quando o pai das crianças entrou,pensara ser o meu,sem que ele pudesse ouvir disse-lhe"te amo papai,fique com Deus",não ouvi resposta,mas senti um afeto intenso,reconfortante.Anjinhos na mesma condição que eu,chamavam-me para brincar.Papai do céu está triste,imaginando até quando e de quantas maneiras mais crianças serão levadas até Ele dessa forma.

Para mim,resta-me fantasiar a infância,a adolescência e a vida adulta que nunca terei.Oro por mamãe,sempre a amarei,o amor liberta a alma.

LÉO VINCEY
Enviado por LÉO VINCEY em 26/08/2008
Código do texto: T1147076
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