O Caminho Magico dos Celtas

Chovia, e a pesar, saímos.

- Sto. André proverá – disse o Professor Pena Graña, e eu olhei para ele como quem atentamente observa dez mil anos de sabedoria.

Saímos, pos de Narom, pois Narom também tem caminhos e na Galiza todos eles conduz ate Avalom, a ilha das maças em primavera, a ilha eterna em juventude.

Iniciando o pé ate Santa Comba e ao Dolmem que perto testemunha milheiros de anos, que a maiores, acompanham o nosso destino, esse que procuram os homens, esses que desviam os caminhos: de ai porque nos perdemos.

- Sto. André proverá... e santo André proveu contemplar Santa Comba desde a Ponta Prior, no cabo que o nome lhe empresta agradecido, de que nós ao longe imaginemos “Os caminhos dos santos e as barcas de pedra” no horizonte detidos. Esses caminhos hoje conhecidos pelo “Caminho Francês”, tem sua provável origem num passado pagão, quando no Neolítico, os homens olham o sol como um bem muito necessário em suas vidas. Nas sociedades de caçadores e semeadores, os nossos agricultores viam o sol remontar pujante ao nascer do dia, detendo-se quedinho ao médio do dia e declinando depois, em direção ao mar, para iniciar-se outra noite, por eles tão temida. Estas doze horas do dia coincidem com os doze meses do ano, correspondendo-se no seu evoluir com à posição dupla dia – noite, luz – escuridão, vida – morte; como a estival época clara da primavera, do verão é seguida duma invernal época escura onde a luz do astro deixa passo as horas de sombra. Desaparecendo, pois, absorvido pela noite o sol ressurge em cada primavera com resplendor renovado. De ai que ao observarem estes fenômenos os nossos antepassados, do hemisfério norte, na Europa Ocidental Atlântica, pensaram com segurança que seguido o sol na sua carreira, renascer iam também nossas almas traz a morte.

Falava o professor com este calor e amor nas palavras de quem sabe sem presunção, de quem da sem pedir em troca. E como a conversa ia demorada, não havendo motivos para interrumpir, rumamos para convidar e fazer participar da mesma a “Moura da Pena Moleja”. Enquanto percorríamos sineiros vales bem assentados, assente o professor nos explicava como numerosos petroglifos atlânticos, da Idade do Bronze, mostram em relevo orado nas rochas, um sol muito baixo dirigindo-se ate um navio que sobre as águas do Oceano, esta aguardando. Como também estão a aguardar as almas de animais e homens que lá fazem caminho em procura de descanso. Como nas laxas da Galiza onde aparecem as alma subidas em suas barcas de pedra ate o por de sol, em ultima travessia vogando.

Assim como o andar também cansa em Pena Moleja sentamos, entre tanto a Moura, invocada pelo Professor André Pena, ia a nossos ouvidos evocando múltiplas historias das que eu uma, pelo seu valor, ressalto:

“De extraordinária formosura esta mulher, ser mágico, fantástica, nas noites de São João, se aparece como a mais bela das belezas femininas jamais vista sobre a terra, a um moço que vagaroso se assoma dos seus domínios. Oferece-lhe a bela moça seu amor ou um tesouro escondido de dimensões nunca vistas, e os jovens normalmente, levados pelas cobiça, escolhem o tesouro desprezando a donzela, bondosa e em outra qualidades rica. Acontece, a seguir, para seu mal feitio o ouro converter-se em cinza, e as mais das vezes como castigo ficar os moços em pedra aderidos, dorida sua alma ate a eternidade retida.

A Moura falou sincera antes de voltar a seu soterrado mundo, enquanto o professor com agarimo em nosso nome fazia as despedias, transformando-se ela própria em três mulheres contínuas: a nova, a segunda que é a mãe, a terceira a velha que transporta na sua mão uma grande pedra que assenta com dedo onde lhe convir decida, indicando-nos de esta forma que a Serra da Capelada estava na nossa fugida. E a serra chegamos e na serra de novo fomos seres perdidos.

- Santo André proverá!... e ao pouco tempo, como do poente surgidos, uma parelha de moços nos acompanhou ate Teixido. Andamos com sumo cuidado, não fosse ser que pisássemos pelo caminho as almas que se transportam em forma de inseto, réptil ou bicho, tomando a rota de Santo André, que como bem é sabido: “A Santo André de Teixido / quem não vai de morto / é porque foi de vivo”... Saudamos, com muito respeito aos homens que falam ao vazio, pois como as almas são cegas, alguns bondosos ajudam aos seres queridos, falando-lhes alto e concreto, preocupados de que não se extravie, seu irmão, pai ou avo, mentres a seu lado fazem o percorrido. Recolhemos, depois, uma pedra a fim de ser redimidos, deitando-a sobre os “Milheiros”, pois pelas gentes é bem sabido, que essas pedras hão de falar chegado o fim do mundo, e nossas testemunhas hão ser das boas intenções que levamos neste caminho.

Para, já no fim do dia, desde o cantil mais alto da Europa soberba e as vezes fria, com a presença dos Deuses Celtas, frente ao Atlântico indomável, de si próprio cativo, olhando a curvatura do horizonte, fomos testemunhas firmes, da mais grandes das magias, para o alma dum galego que se preze de ser livre: O sol adormecido entre a nevoa, as nuvens trás dele como majestosas cortinhas, de celestial dourado luminoso, de um branco limiar intenso abrir-se destino, indicando sobre o mar com estrelados destelhes precisos, o caminho ate Avalom, que seguem os corpos vencidos.

Foi em presença do nosso Grande Mestre, o nosso particular Druida, ilustre interlocutor entre a gente de aquém e a de alem que mutuamente se escutam, com palavra que diz verdade, e com o vento que traz de novo a voz de aqueles que foram vestígio.

A eles, nossos ancestros, aos Deuses que em tal dia nos saudaram amigos, aos avos dos nossos avos com orgulho, desde este cantil nos dirigimos, gritando desde o interior da alma: “Não deixaremos que nos roubem, arteiros e vendidos, a identidade construída pelas vossas cinzas, hoje raízes”.

Obrigado Professor Pena Graña, por essa aula de luxo, esse rigor na palavra, por este dia já inesquecível.