MINHA PRIMEIRA VEZ COM UMA PROSTITUTA

Que forças me levaram a me aproximar dela, não sei explicar, talvez fosse seu corpo perfeito refletindo o dourado do sol do começo da primavera, talvez fosse o desejo de unir nossos corpos num leito que não exigisse compromisso, aliança, promessas que nunca seriam cumpridas.

Precisei criar forças para vencer a vergonha, fui ousado e aproximei-me e perguntei o seu preço; ela sorriu e disse que se não precisasse de grana, faria de graça, pois gostava do meu jeito. E segurando minha mão, guiou-me para dentro de um prédio suspeito, onde um sujeito com uma arma, vigiava cada canto daquele prédio, que de fora parecia ser apenas um edifício e não uma casa de prazer passageiro.

Quanto entramos no quarto, percebi que algumas coisas não pareciam estar corretas, a janela estava no teto, e a cama parecia uma piscina; foi então que percebi que não estava na vigília e sim, sonhava que estava naquele lugar.

Era um sonho lúcido e a moça parecia ser tão verdadeira, que jurei que ela existia realmente e não apenas na minha cabeça. Então, ela se aproximou e ao invés de embarcar naquele sonhos de incubus, perguntei se poderiamos conversar ao invés de começar aquilo que eu sabia que não era real. Foi então, que ela começou a chorar e passou a contar que nunca pediram para ela falar.

- Eu escrevo poesias, sabe? Queria ser uma escritora, mas depois que me formei em letras, não consegui arranjar um emprego que pagasse as contas. Dai, eu tinha uma amiga que já tinha feito programa, e...o resto é história. Sei que você acha que sou fraca, mas a gente faz o melhor que pode, né? Mesmo que esse melhor não seja nem o pior que uma pessoa boa faça.

Estranho, como todo aquele discurso não parecia ser uma coisa criada pela minha cabeça. Esquisito mais ainda, que o meu desejo sexual foi sendo substituído por um genuíno interesse em ouvi-la, saber sobre ela, compaixão por essa profissional das ruas, da vida, que nunca são ouvidas, só usadas.

- Você quer ouvir uma das minhas poesias?

Balancei a cabeça, dizendo que sim, e enquanto ela procurava seus poemas em sua bolsa, fui notando que as imagens perdiam o foco, e ela e o local em que estavámos foram se afastando, desaparecendo, até que acordei no meu quarto, minha esposa dormindo ao meu lado, e eu morrendo de vergonha por estar sonhando que estava com outra.

No dia seguinte, arrumei-me e parti para o trabalho. Tinha até esquecido o sonho. Na vida real, não temos tempos para devaneios ou lembrar desses contos do nosso inconsciente. Na volta para casa, no ponto de ônibus, surpresa, vejo ao meu lado, a mesma moça do meu sonho. Ela não estava oferecendo seu corpo, nem muito menos lembrava a mulher sensual que havia me atraído. Parecia ser apenas uma estudante, jovens, óculos redondos, livros sobre Fernando Pessoa colados no peito. Senti vontade de conversar com ela, de descobrir se havia alguma relação entre ela e a moça do meu sonho, mas achei tudo aquilo muito ridículo e deixei aquele encontro acabar daquela maneira, sem saber por que razão eu tinha sonhado tudo aquilo ou se a prostituta do meu sonho era a mesma moça que estava no ponto.

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