Lar, doce verde lar!

A mais nova moda no mercado imobiliário é o tal condomínio ecológico. Está na televisão, nos jornais, nas esquinas, nos panfletos, afinal, com a facilidade no financiamento da casa própria, cada um faz o que pode e abusa do que não pode.

Gosto de observar o que cada anúncio tem a oferecer. Cada parede representa o retrato de seu dono.

E assim eu vejo um nobre e qualquer cidadão, que busca o que também vende muito: qualidade de vida. O acesso à felicidade de tantos e tantos cidadãos se encontra não muito distante. Pode ser pela Raposo Tavares, pode ser em Vinhedo ou em Jundiaí.

Pouco importa então tanta moda: CO, CO2, CFC... São tantos os "cês" e não é o meu carro que fará a diferença, certo? Enfrentar um trânsito, parado é claro, para aproveitar poucas horas no meu espaço em meio a natureza vale a pena. Mas hein?

Ah, caro nobre e qualquer cidadão, seu filho vai nascer e eu sei que ele precisa de liberdade e natureza. Pois então lembre-se que todos nós precisamos.

Mas você pagou por isso né?

Quantos metros quadrados de área verde ainda serão utilizados para gerar mais ofertas de qualidade de vida? Quanto ainda terei que trabalhar para pagar pela destruição do que já é meu?

Ainda não pago pelo ar que respiro, nem pela sombra que me alivia. Talvez eu não tenha nascido para viver bem.

Prefiro assim. Prefiro tijolos por tijolos. Animais silvestres lá e o meu cachorro aqui comigo. Deixe o meu ar sujo aqui, porque eu não quero matar um espaço na ilusão de ter saúde. Limpa lá e suja cá, entende?

Não quero qualidade de vida. Quero a qualidade da vida!

É uma troca, mais ou menos assim: cause um câncer no verde que o seu surgirá num tempo determinado pela sua consciência.

Mariane Dalcin
Enviado por Mariane Dalcin em 29/08/2008
Reeditado em 27/12/2010
Código do texto: T1151846