COMO SE CHAMAM ESSES TAIS?
ANA MARIA RIBAS BERNARDELLI.


A eternidade não é aqui, hoje é sábado, e eu não tenho culpa da minha rude franqueza, que se manifesta todas as vezes em que me conscientizo dessas duas realidades.
 
Se eu pudesse chorar e ser ouvida "ad infinitum", todos os seres humanos do passado, do presente, e do futuro, sentiriam uma grande compaixão por este ser que ainda vive e chora.

  No entanto, eu não choro por mim. Peço encarecidamente,  que a sua compaixão venha acompanhada de uma visão mais alargada. Esse ser que vos escreve,  chora pela humanidade.
 
Minha tristeza- essa que você sabe que carrego comigo -  é uma miudezinha de nada, cujas lágrimas já secaram há alguns anos. Por essa, eu nem choro mais.

Eu só choro quando alguém precisa de companhia. Então, para que tal pessoa não chore des-acompanhada, eu choro com ela. 

Adquiri esse privilégio de poder chorar conforme me é conveniente. Isso não significa que tenho vocação para ser artista da Globo. Significa apenas que sou um ser hospedeiro de muitas lágrimas. 

Lágrimas, para mim, não são como um parasita que suga e nada dá  em troca. Lágrimas, para mim, são um processo de simbiose instalada: eu lhes dou expresssão e elas me dão vazão. Como a usina de Itaipu: a energia que se obtém da força das águas são a  expressão das águas. A vazão das comportas é ajustada, segundo a necessidade de cada dia. Sem vazão, Itaipu se explodiria. Às vezes penso, que lindo seria ver Itaipu explodir e lamber a terra. Mas também seria trágico,  porque muita gente distraiu-se e  não aprontou a sua Arca de Noé.  A minha está pronta:  Faz algum tempo.  

Sábado é dia de ajustar a vazão das comportas. É dia de dizer: A eternidade não é aqui. Mesmo que eu esteja passando férias numa ilha do Caribe, cercada de mordomias, aos sábados, eu sempre direi: A eternidade não é aqui.

E não é que tem gente que pensa que é? Que leveza de ser!  Que jeito magnífico de existir! Que sensação de vertigem alomórfica! Divididos entre a doçura de um chá da tarde, e a acidez de um café da manhã, a turba segue, animadíssima,  em direção ao nada.

 Os alônimos da humanidade são eles ou seremos nós? Que nomes têm esses tais? 

Eu só me reconheço naqueles que Carl Sagan citou:

" Desde quando existem humanos nós procuramos o nosso lugar nos cosmos. Onde estamos? Quem somos? Nós descobrimos que vivemos em um planeta insignificante, de uma estrela trivial, perdida em uma galáxia, jogada em algum canto esquecido do universo, no qual há muito mais galáxias do que gente. 
Nós tornamos o nosso mundo significativo pela coragem das nossas perguntas e pelas profundidades das nossas respostas. Nós embarcamos em nossa jornada para as estrelas com uma pergunta feita pela primeira vez na infância de nossa espécie e feita de novo em cada geração com assombro renovado. O que são as estrelas?" 

Pois é. Que nome têm aqueles que não procuram o seu lugar no cosmos? Que nome têm aqueles que vivem em um planeta insignificante, que só tornou-se significativo em virtude da possibilidade de poder abrigar a vida? Que nome têm aqueles que nasceram e morreram sem nunca indagar da Via Láctea: Ôooo Via Láctea, é aqui que eu moro? Existe algum imposto para eu pagar?  Quem fez para mim esse cafofo morninho? Essa viagem que fazemos todos os dias, incessantemente, em torno do sol, e para frente, nos levará a algum lugar?

Seria talvez por isso que o mundo tornou-se tão pouco significativo: pela falta de perguntas e pela ausência de respostas? Porque ninguém pergunta nada e vivem todos como se já soubessem tudo?  

Onde está o assombro renovado? Morrerá comigo? 

Eu não sei o que são as estrelas. 
Não sei- nem mesmo- quem sou eu.
 
Mas: Graças a Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo, porque  sei que Ele é o Filho do Deus Vivo. 

Sei de um jeito pessoal, subjetivo e intransferível, que, às vezes, me faz muito  feliz,  e outras vezes, me faz apenas declarar: Hoje é sábado, a eternidade não é aqui e eu estou com uma baita saudades do céu. 


Foto: Panorâmica da Via Láctea montada por imagens obtidas através da grande angular dos telescópios Schimidt e Hale situados no Observatório do Monte Palomar, Califórnia. Fonte: Hale Observatories