MARCAS E ESTIGMAS

MARCAS E ESTIGMAS

Caminha estrada afora, sem destino, rumo, em ânsia e desespero. Todas as oportunidades lhe foram negadas. Já nasceu em desvantagem, subnutrido foi gerado e sua vida toda foi de privações e humilhações.

Infância triste, cheia de pequenos sonhos que nunca se realizaram. Queria ter o que as outras crianças tinham, mas como iria consegui-las se de nada dispunha, a não ser a tremenda revolta por causa das dificuldades. Frio, fome, desilusões e anseios sufocados e reprimidos.

As marcas da fome e miséria foram sendo acumuladas, no corpo e na mente e se tornaram, a cada dia, em feridas cada vez mais profundas e doloridas.

Ele foi crescendo, oprimido por tudo e por todos e cada vez mais incompreendido. Quando se revoltava era contido e advertido. Diversos apelidos lhe deram e todos negativos e pejorativos: moleque de rua, trombadinha, Zé Ninguém, filho disto, daquilo, bagunceiro, vagabundo, sem vergonha, ladrão, vadio, assassino, malcriado, desocupado, drogado e tantos outros.

Sonhos, já não os tem, porquê acalentá-los se jamais vão se realizar. Quanto a clamar por justiça é muito difícil, pois ela é cara e para poucos.

Acontece que muitos dos que lhe negaram oportunidades; sufocaram seus sonhos, colocaram em seu corpo as marcas da fome e miséria não têm nenhum apelido. São bem vistos pela sociedade hipócrita, alguns são até líderes religiosos ou políticos, membros de Sociedades de Filantropia, detentores de altos cargos públicos e até Legisladores.

Este homem que carrega todas estas marcas é marginal no conceito da maioria, na sua indiferença e farisaísmo, embora digam e apregoem que todos são iguais perante a lei. Será?

JOSE BENEDETTI NETTO

jose benedetti netto
Enviado por jose benedetti netto em 01/09/2008
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