De como aprendi a abrir um vinho

Desde que estou só, ando afogando as mágoas em meia taça de vinho. Basta-me. Me deixa mais calma e aparentemente mais feliz. Grande novidade! Parei com alguns hábitos que me impediam tal prazer e me atirei ao deleite de uma degustação tranqüila, sem pressa e saborosa. Uma vez por semana, detalhe.

Uma noite dessas de inverno, em uma casa que de repente ficou dez vezes maior, vinho acondicionado, já adquirido com uma intenção embutida. Não conseguia abrir a garrafa. Um amigo virtual me passava pelo msn as direções e nada. Finalmente, vencida pela sede do líquido seco e rubro, coloquei a garrafa entre as coxas e puxei a rolha. Nada elegante, mas eficaz.

Dias depois, um amigo me visitou e me ensinou a abrir a garrafa. Mas eu, entretida em olhar meu querido e ouvir suas palavras, não aprendi a lição. E naquela noite tomamos a bebida com prazer. Aquela e mais duas.

Semana seguinte, ao meu filho foi dada a tarefa. Nada bom. Tentativas, gotas de suor. Mãos não tão hábeis quanto as de meu amigo. Resultado: foi aberta nas coxas. Uma taça degustada na solidão.

Mais uma semana, ... apareceu. Foi sua vez. Senhor de todo conhecimento, fez gestos e deu explicações, um expert. Garanto que não foi muito bonito, e mais uma vez, entre goles e conversas, uma garrafa foi consumida.

Considero-me uma mulher forte, mas pela falta de jeito, me sentia uma fracota ao não conseguir abrir, eu mesma, certo sábado, um rosê geladinho que aguardava ansioso por minha garganta. Chamei o ex da minha filha e ele conseguiu. Até que não se saiu mal. Novamente tomei uma taça, sozinha.

Finalmente, uma amiga veio visitar-me e provamos um gruyere incrível. A professora, delicada, ensinou-me então a abrir a garrafa. Nada como uma educadora para escolher a técnica didática adequada. Um exemplo da mestra e a aluna-anfitriã, atenta.

Saca-rolhas colocado adequadamente, idas e voltas, gestos circulares. Pontas devidamente espetadas na fibra. Pronto! Horas de conversas e ao chegar o momento da segunda garrafa, pus em prática o que acabara de aprender. Funcionou. Como dizem os antigos, vivendo e aprendendo.

Sônia Casalotti
Enviado por Sônia Casalotti em 04/09/2008
Reeditado em 21/09/2008
Código do texto: T1160984