Cantava como o sabiá

Valdick Soriano morreu. O cantor das desamadas, dos traídos, dos acertos e desacertos do coração, deixou de existir e com isso a boêmia, a cornagem, a raparigagem sentiu um abalo muito grande porque o seu maior menestrel, o seu poeta maior já não mais existe para protestar com o hino dos humilhados, dos cornos, dos desprezados, dos mal-amados. "Eu não sou cachorro não/prá viver tão humilhado/eu não sou cachorro não/prá viver tão desprezado" e ele definia nesta canção o que era o pior para um homem ou para uma mulher." A pior coisa do mundo/é amar sem ser amado..." Valdick amou demais e se foi amado, não tantas. "Amigo, por favor leve esta carta e entregue aquela ingrata e diga como estou/ com os olhos rasos dagua e peito cheio de magua, estou morrendo de amor". Certamente o cantor dos cornos e muiheres da vida que era cantado e ouvido com preconceito porque era conhecido como o cantor brega, dos cornos, dos cabarés e das putas, ele era a alma do povo brasileiro, este povo que namora, casa, pega chifre, se amiga e senta-se a uma mesa de bar, pede uma cerveja e curte sua desilusão, sua cornagem, ouvindo Waldick Soriano, cantando o amor e o desamor, a fidelidade e a traição, caminhando juntas de mãos dadas, só esperando o momento de dar o bote porque Cupido atira prá todos os lados.Valdick que cantou o amor do homem que segundo Byron, em Don Juan, o amor de um homem é uma coisa á parte de sua vida; o da mulher é toda a sua existência. E continuava dizendo que "em sua primeira paixão, a mulher ama o amante, em todas as demais, ela ama o amor". Waldick cantou o amor da mulher porque o homem é um predador, um caçador. O filho de Pernambuco viveu os últimos momentos de sua carreira em Fortaleza mas era em Teresina onde ele encontrava o seu último refúgio o lado de Marinês Medrado, sua última paixão. Há cerca de seis anos, Waldick aceitou meu convite e desfilou como destaque no carnaval de rua, na Escola de Samba Nossa Cara.Durante o periodo de preparação e desfile consumiu um litro de uisque. E o povo de Teresina aplaudiu o maior cantor brega de todos os tempos, o menestrel dos cornos e desprezados. E cantou com ele: Eu não sou cachorro não/prá viver tão humilhado/eu não sou cachorro não, pra viver tão desprezado." E concluia: Vou ficar aqui, chorando, pois o homem quando chora/tem no peito uma paixão .