Não devia

Infelizmente a gente se acostuma. Mas não devia. Até quando temos o desejo de mudar a medíocre realidade em que nos encontramos, a conformidade se apossa de nós e, novamente, a gente se acostuma.

A gente se acostuma a andar pelas ruas vendo rostos de pessoas famintas, indigentes largados ao chão, a receber nas janelas de nossos carros crianças pedindo esmolas embaixo do sol quente, mendigando em calçadas e semáfaros.

A gente se acostuma a ligar a TV, e ver noticiários de infinitas atrocidades que acabam com a vida de milhares de inocentes. A gente se acostuma a saber que dentro do governo de nossa nação, há tanto desvio de verbas... E assim, a gente se acostuma a ter um governo ladrão.

A gente se acostuma com as brigas de família. Se acostuma em ficar dias, ou até meses, sem dar um "bom dia" sequer, ás pessoas que encontramos logo pela manhã, como o "patrão", o cobrador do ônibus, e até mesmo nossos familiares quando se assentam a mesa do café da manhã.

A gente se acostuma com infinitas perguntas, como: "De onde vim?", "Para onde vou após minha morte?", "Onde está Deus?"... e não ter nenhuma resposta que nos convença.

A gente se acostuma com perdas de pessoas queridas. Os anos passam... As lágrimas secam, e só nos restam lembranças, que ficam soterradas em nossa mente.

A gente se acostuma a correria do dia-a-dia, a não parar nem mesmo em horário de almoço, a não sentar a mesa com nossa família, e a não nos olharmos olho á olho.

A gente se acostuma a sofrer, a sentir dor e ser decepcionado. A gente se acostuma a deixar de amar, por medo de se frustrar. A gente se acostuma a exitir... ao invés de viver a vida... A vida que aos poucos, se gasta. E que, gasta de tanto se acostumar, se perde de si mesma...

A gente se acostuma a nos esquecermos de nós mesmos.

Thabatta Bastos

Thabatta Bastos
Enviado por Thabatta Bastos em 05/09/2008
Reeditado em 30/11/2012
Código do texto: T1163743
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