DO NARIZ AOS PÉS

Sempre ouvi dizer que a vida começa aos 40.

A minha começou esses dias.

Está sendo em partes homeopáticas.

Sabe Da última?

Descobri dois extremos do meu ser: meu nariz e meus pés.

No caso do primeiro, soube por um otorrinolaringologista que meu nariz não funcionava.

Isso mesmo, ele olhou muito sério para meu Raio X das faces e mandou o diagnóstico:

- Você não está com sinusite, mas seu nariz está feio mesmo.

- Como assim? – pergunto entre surpresa e magoada.

Ele me chama para ver mais de perto “a foto” fatídica.

- Está vendo aqui?

Olho sem ver nada de mais nem de menos.

- Mas em todo Raio X o meu nariz sai assim.

- Ninguém nunca mandou você procurar um especialista?

- Não.

Saio da sala de posse do bendito Raio X e as guias de outros exames.

Dias depois, na consulta de retorno, não soube distinguir se o sorriso do “doutor” era de educação ao me vir ou se era de satisfação de poder me provar, pelos exames, que meu nariz estava um bagaço mesmo.

Depois das gentilezas de praxe descubro que desde os meus 15 anos eu não respiro pelo nariz.

Fazendo as contas do antes, do agora e do futuro: nunca tive nariz.

Como assim? Adoro essa frase.

- Você teve uma deformação na concha esquerda formando uma bolha de ar que fechou essa narina. Por sua vez, essa bolha empurrou o septo que obstruiu o lado direito.

- Ãhã. É?

- Teremos que fazer uma pequena cirurgia.

- Certo.

Achei melhor encerrar a conversa e ir consultar outros “especialistas”: minhas amigas de serviço, minha mãe, irmã, cunhadas e amigas de internet.

As opiniões foram bem variadas mas resolvi fazer.

Passada as primeiras semanas mais sensíveis, estou aqui com meu lindo narizinho – ele sempre foi uma graça -, funcionando que é uma beleza.

O próximo passo será aprender a respirar por ele.

Por outro lado, por volta de 1,56 m de distância, no extremo sul do corpo tive uma grata surpresa: meus pés.

Não é que nunca prestei muita atenção nos “bichinhos”!

Semana passada, em plena aula de Narrativa, a professora solta uma frase contundente:

- Tem muita gente que não lava os pés. Acha que, só porquê já lavou os cabelos e ensaboou o corpo, não precisa lavá-los. A água que escorre do corpo já faz isso.

Você lava os seus?

Pode afirmar com 100 por cento de certeza? Tirando os dias de muita pressa?

Pessoalmente, tive que puxar pela memória.

Acho que perdi tanto tempo controlando o diâmetro da barriga e a queda livre das mamas e glúteos que nunca enxerguei os pés.

Lavar, secar entre os dedos, passar creme hidratante isso tudo é tão automático que nunca fiz isso como realmente se deve: com carinho. O máximo do máximo é levá-los ao pedicure.

É engraçado como deixamos de prestar atenção em nós.

No meu caso, os pés assim como o nariz são só exemplos.

Vamos nos acostumamos com a ausência disso ou daquilo, ou valorizamos tanto a aparência no geral que esquecemos os detalhes.

De que me adianta um corpo escultural – ou nem isso -, se não tiver meus pés?

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Parei um pouquinho para olhar pra eles.

Depois dessa aula passei a cuidar melhor deles.

Aliás, ando cuidando mais de mim.

Descobri que se nunca notei o que está na cara nem os pés, que me mantêm em pé, o que dirá dos meus sentimentos?

Pensando bem, a vida não começa quando nascemos e sim quando nos descobrimos.

Pode até ser aos 40. Quando chega a hora, chegou a hora.

Sempre é tempo para aprender e descobrir o esquecido, o que está fora de uso.

Quando fazemos isso podemos começar a pensar para onde iremos em seguida.

Etelvina de Oliveira
Enviado por Etelvina de Oliveira em 06/09/2008
Código do texto: T1164188
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