O TRABALHO QUE EU LHE DOU X O TRABALHO QUE ELA ME DÁ.
ANA RIBAS.

Hoje aprendi com ela: "fulana passou por mim e não deu as hora." Será hora com "h" ou ora sem "h"? 

- Mas você perguntou as horas e ela fingiu que não ouviu?
- Não.
- Então, ela estava sem relógio?
- Não seja tonta, Ana. - quase consegui fazê-la rir da minha tontice. 
- Ela não me deu as hora, não me saudou na rua. A gente fala assim: "dar as hora."
- Ah...

Que ignorância a minha. Pois se ela tem um relógio no pulso- que ainda está pagando- novinho em folha, não seria para sair por aí perguntando as horas. 

O sentimento se fez fundo  porque fulana- que é da "sua igreja"  passou por ela e não deu as hora.
 
Tento explicar que talvez ela não tenha dado as hora porque estava distraída, porque não a viu. Que as vezes vemos, mas não enxergamos. 

Mas ela diz que não, que fulana viu e não quis dar as hora. Que como dirigente de alguma coisa ela tinha que dar as hora para o pobre e para o rico.

A manhã inteira ela ficou parecendo rediviva, a cada dois minutos: um minuto morta, no outro viva. Alternando o pensamento entre o serviço da casa, e as hora que lhe foram negadas.

Faço de tudo para voltar a vê-la somente viva, mas hoje ela saí mais cedo e mais cedo, por volta das 13 horas, dou a minha função por encerrada, esperando, encarecidamente,  que na segunda feira, fulana tenha lhe devolvido as hora. 

Nalva é assim: às vezes, ela executa o trabalho que eu lhe dou, outras vezes, tenho que executar o trabalho que ela me dá. 

Fiz o que pude.