DEBOCHADA É A MINHA IGNORÂNCIA VERBAL.
ANA RIBAS. 


Eu bem que procurei um termo mais leve. Sabia que "debochado" daria uma idéia diferente daquela que eu sentia no momento, e que precisava externar em palavras.  Mas recorri ao meu velho dicionário já sem capas, e não sei se  as palavras entraram em decrepitude dentro de um dicionário velho, e morreram uma a uma, mas o fato é que não encontrei nada mais leve para substituir a debochada que você não é.  Encontrei, por exemplo,  a escarnecedora que você nunca foi. Então lasquei o "debochado" mesmo e agora tenho que me virar nos trinta para provar que focinho de porco não é tomada. Faustão entenderia e ainda me daria uns trocos. É o que eu espero conquistar finda a tréplica. Uns trocos de pura aceitação. E que o I love you se perpetue de you para I e de I para you. 

Então vamos assim: "quem te fez assim tão divertida..."? Meu Deus, olha aí a palavra. Sabe que às vezes  isso acontece com os meus óculos? Não consigo encontrar sequer um, eu que tenho tantos. Outro dia, ele estava tão disponível quanto essa palavra que, ontem, me foi negada: em cima da minha cabeça. 

Mas hoje, de óculos na cara, e palavra na ponta dos dedos, mais uma ternura besta que me invade o coração - venho lhe dizer que você é apenas divertida.  E também venho lhe perdir perdão pelo pesado da palavra debochada.

Perdão, minha irmã! Em pedindo perdão a você, também o faço ao meu Deus. 

 E com isso encerramos por aqui. E avançamos para as igrejas de ontem. 

Lindo texto, cheio de reverência para com Deus. Deus não precisa de defensores, mas de vez em quando, eu me meto a besta e entro no meio. Eu me inflamo de amor e fico vermelha de paixão por um Deus que ama todos os seus filhos, e que os sabe, apenas,  divertidos. E quando sinto que alguém fala dEle com a reverência- queEle nem exige-, eu me torno mais iluminada do que a torre Eiffel. 

 Deus sabe todas as coisas e nos acompanha tão de perto, dando-lhe a idéia criadora aí e dando-me a idéia criadora  aqui. Ele escreve por nós, usando as nossas mãos.
 
Deus  avança e tem pressa. Nessa pressa que Ele tem de se revelar, ele lhe fez escrever o texto de ontem: As Igrejas.  

As igrejas são mais bonitas por dentro do que por fora! Meu Deus! Quando li isso, pensei: ela tocou na ponta do manto de Cristo e trouxe de lá a mais pura cintilância do que há no céu.
 
Pois se nós somos a igreja, se cada um de nós é um templo, de certo, conhecer a igreja por dentro é de uma lindeza que supera em muito, qualquer visão exterior que dela se possa ter por fora.

 Observe as barrocas mineiras. São lindas! Mas veja a sua alma por dentro, essa cuja nesga, hoje, você nos permitiu desvendar: essa é de um caprichoso mineiro folheado a ouro que nem Aleijadinho saberia compor. 

 Reza, e em rezando, se descobre para o céu; mente, apenas quando necessário e em admitindo a mentira já está se sabendo humana - como eu, que também minto quando me distraio; mistura alhos com bugalhos quando junta Deus e os políticos brasileiros: esse foi o único deslize - mas isso é característica dos divertidos;  depois, como quem escorrega no desvão de um degrau e não cai,  recompõe-se, ajeita a saia,   e continua,  brindando-nos com a devolução da agulha que não lhe pertence. 

Mas isso é de um certo legalismo, sei lá. Eu quando empresto uma agulha, preciso me concentrar muito para não perdê-la no percurso e se - com muita sorte- consigo chegar com o troféu na mão, uso e esqueço. Para dali uns dias, precisar de novo. Aí, pego o carro e vou comprar. Que cara para pedir emprestado de novo,  não tenho mais.
 
Portanto, na minha lista de pecados existiria sempre a primeira vez: a primeira agulha, o primeiro ôvo, a primeira colher de fermento, o primeiro saquinho de queijo. Existiria. Porque os pecados que lembro confesso, e se sinto que precisam de restituição, restituo; mas se não sinto, não restituo. 

Ou restituo assim: mandando para a vizinha uma meia dúzia de pães de queijo. Que já pagam o ôvo do mês de janeiro e o queijo do mês de setembro. A agulha já perdi, não tenho como pagar. Mas fica pela espetada que de vez em quando, voluntária ou involuntariamente, ela me dá. Ela é simplona,  me espeta na parte mais dolorida do meu ser, pisando em terreno sagrado. Depois,  vai embora e nem desconfia. Fico eu sangrando, pagando em lágrimas,  a agulha que lhe tomei.

Mas  hoje  está sendo objeto do meu deleite uma menina linda lá das gerais.  Embora a idéia de pecado seja um grave recorrente dentro de você. Não sei como corrigir isso assim, à distância. Sentadas no sofá da sua casa nova, ou da minha casa velha, passearíamos pelos caminhos da redenção e você ficaria livres deles todos. 

Mas na impossibilidade da proximidade, uma idéia me veio agora: peça uma agulha emprestada para a vizinha, já com a idéia preconcebida de não pagar: isso é pecado! Guarde essa agulha ( esse pecado) até que a vizinha morra e você não tenha mais a possibilidade de se redimir do seu pecado. Então, tome a agulha e fure o dedão, naquele local do bem gordinho. Deixe jorrar um sangue grosso, bom e vermelho. Em contrição, pergunte a Deus? : "Deus esse sangue que estou derramando agora - porque eu quis derramar - paga o preço do meu pecado pelo roubo da agulha da vizinha?"

Eu sei como Deus responderá. Ele responderá assim:   "minha filha, nem precisava essa judiera. Jesus já pagou por todos os pecados da humanidade, pelos seus e pelos do mundo todo, por todos aqueles que você comete em pensamentos, palavras e obras dentro ou fora do templo e por todos aqueles que a humanidade comete em circunstâncias apenas normais. No passado, no presente e no futuro: a cobertura é completa."  

Porque o templo é você - eu acrescento para ajudar a Deus. O templo é você e já está pronto para uso: reclamando pouco da vida, mas se confessando "abestalhada"  com a bênção que Deus acaba de lhe conceder; ouvindo passarinhos e se deliciando com o seu canto; deixando a candura  invadir a ponto de enxergar no cocô do dito cujo,  a bordadura num lençol;  extasiando-se com o barulho da moto do jornaleiro e abençoando-0 com a sua imaginação; admitindo que  ama Deus e que Ele tem cuidado de você;  confessando com essas palavras  que Ele é o seu dono e Senhor: " Deus o Senhor é o dono do maior e do melhor coração." Essas palavras são suas!

Sem contrariar o seu falar que expressa o sentimento do seu coração,  também quero expressar o que vai no meu:  "Deus, o Senhor é o dono do menor e do pior coração." Que se ele fosse dono só do melhor e  do maior, eu ficaria de fora, mínima que sou. Não quero ficar de fora da posse de Deus. Eu sou a sucata de Deus, mas não abro mão de ser Dele e nem Ele abre mão de ser meu. 

Ele é nosso! Ele é do grande e do pequeno, é do maior e do menor, é de todos aqueles que com o coração puro estão dispostos a lhe render  "sacrifícios de louvor que são o fruto de lábios que confessam o seu nome."
 
Ou de dedos que  só param de escrever quando   destampam o gargalo da garrafa e liberam o mistério. Liberado está.  

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Obrigada Marília, por nos possibilitar reflexões rasinhas e leves sobre um Deus que é tão diáfano quanto a asa de uma borboleta. E que hoje - manuseado por nós duas de forma tão grosseira-  decolou feliz para vôos mais altos.

Você sente a felicidade de Deus nesta manhã? Eu sinto!

Ah, eu também te loviu!