AS RUAS DAS GRANDES CIDADES

As ruas tresandavam ao cheiro de borracha

queimada, ao cheiro do asfalto, ao cheiro úmido das

pessoas que se amontoavam nos ônibus lotados, no

penoso trajeto diário da casa apertada, da rua

apertada, da vida apertada entre os muros estreitos,

entre os prédios cinzentos e sem vida, os tijolos

esmaecidos à mostra.

As ruas sem sonhos dançavam paralelas,

transversais aos caminhos dos homens esquecidos

nos bairros, nas vilas, nos guetos onde os homens

são depositados, meras criaturas a contar os dias

como se contam os anos, como se conta a vida

fugidia e insossa.

As ruas das grandes cidades cheiravam a

folhas mortas, cheiravam a flores desbotadas, o

cheiro marrom das árvores marrons espalhando-se

nas ruas repletas da solidão dos homens.

As ruas das grandes cidades são sempre

perfumadas de solidão.