SYLVIA PLATH

SYLVIA PLATH

Hoje este meu espaço é dedicado a uma poeta de quem gosto muito: Sylvia Plath, compreendida por uns e menosprezada por outros, que se suicidou em Londres em 1963, aos trinta anos de idade, enfiando a sua bela cabecinha pensante dentro do forno do seu fogão. Era casada com o poeta Ted Hughes, que dedicou estes versos depois que ela se foi:

Não foi

Que não pudesse prosperar, nasceu

Contudo, menos a vontade

Que pode ser tão torta como um membro

A morte foi-lhe mais interessante

A vida não capturou sua atenção

A propósito desse poema, que se intitula “Sheep” (Carneiro), escreveu a jornalista e escritora Janet Malcolm, em a “Mulher Calada”: A vida é claro, jamais captura toda a atenção de alguém. A morte é sempre interessante e nos atrai. Assim como o sono é necessário a nossa fisiologia, a depressão parece ser necessária a nossa economia psíquica. De alguma forma secreta. Tonatos, além de se opor a Eros, também o nutre. Os dois princípios, atuam em oculta harmonia, embora Eros predomine na maioria de nós, em ninguém Tanatos está totalmente subjugado...

Para quem não conhece a poesia de Sylvia Plath, segue um poema seu, de que mais gosto...

ACHAVA QUE NÃO PODIA SER MAGOADA

Achava que não podia ser magoada;

achava que com certeza era

imune ao sofrimento —

imune às dores do espírito

ou à agonia.

Meu mundo tinha o calor do sol de abril

Meus pensamentos, salpicados de verde e ouro.

Minha alma em êxtase, ainda assim

conheceu a dor suave e aguda que só o prazer

pode conter.

Minha alma planava sobre as gaivotas

que, ofegantes, tão alto se lançando,

lá no topo pareciam roçar suas asas

farfalhantes no teto azul

do céu.

(Como é frágil o coração humano —

um latejar, um frêmito —

um frágil, luzente instrumento

de cristal que chora

ou canta.)

Então de súbito meu mundo escureceu

E as trevas encobriram minha alegria.

Restou uma ausência triste e doída

Onde mãos sem cuidado tocaram

e destruíram

minha teia prateada de felicidade.

As mãos estacaram, atônitas.

Mãos que me amavam, choraram ao ver

os destroços do meu firma-

mento.

(Como é frágil o coração humano —

espelhado poço de pensamentos.

Tão profundo e trêmulo instrumento

de vidro, que canta

ou chora.)

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 08/09/2008
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