A Ladra do Sono

As histórias sempre me encantaram. Embalaram a minha infância e instauraram um espaço mágico, onde aprendi a própria vida. Como era de se esperar, fui uma exímia contadora de histórias para meus filhos, principalmente, na hora de colocá-los para dormir. Raramente chegava ao final, pois, em poucos minutos, já estavam no país dos sonhos. Retornava a outras atividades, porém as histórias continuavam o seu desenrolar na minha mente, eu mesma me ninando, buscando o sono. Tenho muitas saudades desse tempo e só de pensar sinto o coração apertado e não consigo segurar a emoção.

Só não fui uma contadora mais eficiente, porque muitas vezes a Ladra do Sono de Tagore, sorrateiramente, sabotava as minhas soníferas histórias. Uma noite, eu contava para Saulo, meu filho caçula, então com quatro anos, a história do João Felpudo. Quando eu afirmei com ênfase que o patinho não queria brincar com o João, porque sujaria as suas penas bem cuidadas, ele abriu os olhos e, todo dono da verdade, argumentou:

— Mãe, só tem uma coisa: patinho não fala. Ele só faz quá... quá.

—Tudo bem, Saulo, mas acontece que na história os bichinhos, os animaizinhos, as aves, todos falam. Entrou na história não existe quem não fale. E segui em frente. E o Saulo nada de dormir. A Ladra do Sono atuava na cabecinha do menino.

Terminada a história, expliquei ao Saulo que ele deveria dormir, já passava da hora. A mamãe estava cansada, tinha outros afazeres para finalizar, e também precisava descansar. E ele contestou prontamente:

— Mãe, eu ‘tô pelejano. A senhora pensa que é fácil?”

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 28/02/2006
Reeditado em 27/07/2012
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