O Amigo, o Macarrão e o Pai-Nosso.
 
            Há tempos não relembrava tal cena que me acontecerá a uns seis anos trás, do qual intitula essa crônica. O sentimento mais puro e sincero de uma amizade cultivada pela curiosidade e pela certeza de que, nos completávamos, mesmo sendo tão diferentes.
               Em um dia enluarado de uma simples sexta-feira, foi que nos vimos pela primeira vez. Posso eu passar tempo tentando relembrar como ocorreu o encontro, mas não me recordo mais. Uma vez ele me contou que foi do nada que começamos a conversar, mas não creio muito nessa hipótese, não era um ser tão sociável assim, há seis anos atrás.
               Nossa amizade começava a tomar força. O seu nome era Demetrio, por assim dizer Carlos Demetrio, como eu chamava nos meus momentos de raiva, que não eram poucos. Fazíamos parte de uma turma de bate-papo, dela cultivei e me afastei de diversas amizades, mas a com o Lorde, o seu pseudônimo, não havia se quebrado, ainda.Ele é diplomático, eu explosiva. Não pensava na hora de falar as coisas, ele por hora, sabia e muito bem. Era o xodó da turma. Mais de 1.75 de pura diplomacia. Magro e branco de doer, por vezes achavam que ele não tinha sangue, por ser tão branco.
               Esse meu Lord, amigo me salvara muitas vezes de minhas empreitadas erradas, tínhamos diversas conversas. Meu maior confidente, meu melhor amigo, aquele que foi o único que me entendeu um dia e que sempre me repreendeu, por saber que eu tinha jeito. Ele foi um dos primeiros a receber cartas e contos meus, sem que nessa época eu pensasse em pública-los, e com seu jeito parecia gostar.
               Nunca esqueço do dia em que pegamos uma breve discussão nesse tal bate-papo, e na sexta-feira nos encontramos. Como sou explosiva nem olharia para ele. Mas ele com sua malemolencia e esperteza, tornou a percorrer um caminho para que enfim chegasse até mim. Dividíamos-nos em grupos em torno da praça, pois você sabe nunca nos damos bem realmente com todos, temos sempre aqueles que temos maior grado. Ele veio de uma ponta a outra, até chegar a mim, com aquele sorriso de criança, como se não tivesse acontecido nada, e me arrebata-se de novo para a nossa amizade, por ser mais que um mero conhecido, alguém como ele realmente era ser chamado de amigo, por ser verdadeiro.
               Ele não residia na cidade, mas próximo e num dia de provas de um vestibular concorrido e tornou a aparecer na minha casa. Eu, sem esperar a sua presença corria as minguas para cozinhar o macarrão para o almoço. Então ele do nada apareceu, no portão de casa com a maior desenvoltura que lhe era sempre atribuída. Como sempre conversamos muito, nossas eternas confidencias que morreram naquele portão, e uma aprendizagem que até hoje eu guardo. Viera ele me dizer que estava a se entender com uma guria, a qual eu já tinha visto, o aprovei nesta empreitada, pois ele merecia ser feliz, mesmo que ela não o fizesse feliz.
               Só fiquei chateada por nossa conversa ter sido interrompida pelo macarrão e pelo grito ensurdecedor da minha mãe a me chamar, mas coisas da vida.
               Mas um dia ele partira para marinha, e quando voltará aquele amigo amadureceu e não era mais aquele menino de que eu brincava quando criança no jardim de infância. Mesmo assim, ao olha-lo me tornei a lembrar do dia em que ele me contou a sua verdadeira historia de vida e me deu a maior lição que alguém podia me dar: “Não deixe que chuva alague a sua vida, use-a para regar as frutas do seu futuro bom.”
               Tornei-me ainda a recordar o dia em que ele me ensinou o seu Pai-Nosso, mesmo ele não sendo de nenhuma igreja, ele me ensinou a parte que até hoje eu repito e que me ajudou a entender que sou humana e que tenho defeitos. A parte que diz assim: “... Perdoai as nossas ofensas, assim como eu as tento perdoar a quem me têm ofendido...”.
               Com essa pequena lição encerro essa crônica, com muitas saudades desse amigo, desse macarrão e da aprendizagem do Pai-Nosso. E apenas para constar, hoje o Lord é casado, não com aquela menina do macarrão, mas com outra, perdemos o contato, pois crescemos e nossa amizade apenas só serviu para aquele momento. As nossas vidas seguiram caminhos opostos.
               A saudade continua... Mesmo que seja apenas por um instante.
 
Samara Lopes
Enviado por Samara Lopes em 18/09/2008
Código do texto: T1184327
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