Galinha frita em época de eleição

De longe o avistei; pensei ter encontrado meu candidato certo: figura de semblante austero, rosto de homem sério... Como pregam ser todo bom político nos conchavos dos bastidores da mídia.

“... É eu mesmo...” – Decepcionado, recebi o santinho e contemplei o proprietário da imobiliária celeste.

Não amarrotei o papel, guardei-o! Poderia servir para um “livra-aperreio” nas horas menos esperadas: ovo cozido sob um sol de quase quarenta graus às vezes “desonera” barriga... Aí, é um Deus nos acuda! Revi o slogan; quem sabe não adotaria o clichê do bem aventurado candidato: “Pra vencer e trabalhar!”

Por ora, não!

Quando criança - acordando cedo para dar milho aos pintos - aprendi conceito contrário: primeiro trabalhar, depois vencer...! Agora querem mudar meus antigos aprendizados de vida. No coronelismo de currais eletrônicos – e puxa-sacos de plantão na mamata de conseguir tudo através da política do servilismo -, até criaram novo slogan:

“Pra vencer e chupar ovo...”!

Em meio a essa sacanagem ovípira, a maioria dos profissionais de mídia, omissa e comprada, vive nos seus galinheiros de conchavo político. Ou você é daqueles que ainda acreditam em jornalista em cima do murro em época de eleição?

Jornalista eleitoreiro é como Neneco, vendendo espetinhos pra sobreviver.

- Neneco, tu chupas? –

A resposta é imediata; bem assada como seu bom churrasco de frango:

- Chupo, dou, faço qualquer sacanagem... Depende do vento! –

Diante de tudo isso, não espanta mudanças de assessorias de comunicação pós-eleição. Observando mais além, veremos que, no ostracismo da maioria do serviço público, o poleiro está sempre cheio de parentes de jornalista. É a herança de Maquiavel sendo usada pela quase totalidade da mídia como recurso para atingir seus objetivos: se não há nenhum inimigo à vista, o melhor a fazer é inventar algum; depois, basta aliar-se a ele...

E haja ovos no poder!

Quanto ao nobre pretenso vereador, resolvi ser menos radical: desconsiderei minha primeira conclusão e voltei para negociação: ou seja, propor-lhe fritar sua galinha dos ovos de ouro em época de eleição:

- Voto no senhor se fizer um projeto de lei diminuindo o dízimo das igrejas em nossa capital.

Olhou-me de cima a baixo, com ar de quem ver um herético, e dispensou meu voto:

- Nem a pau, oh! Juvenal... - Perdeu meu voto, mas não perderá seu ganha pão.

Nesses períodos eleitoreiros, diante do dilema de em quem votar, fico com meus pergaminhos existenciais, atordoando-me em uma época incerta:

- “Sou eu mesmo”, ou o tempo está errado...!?