O câncer e o homem...

Levantou-se e cambaleou. Quase caiu ao tentar olhar o céu. Sentiu vertigem. Enjôo. Cobiçou o além-ver.

Olhou o rio. Perguntou por Deus. Balbuciou o nome divino...

- Onde estás Tu?

Com a falta, com o medo do futuro e o desejo de mudar para melhor, sentiu que poderia beber todo o Amazonas... Se este fosse álcool (por que é sempre assim! Humanos, demasiados humanos...).

- Eu me afogaria com gosto ai...

(O sol havia fortalecido seus raios...).

A noite passara tão rápido que não percebeu.

“O tempo sempre acelera contra nosso gosto”.

Amargamente aprendeu isto... E doeu. Como um câncer. Um câncer incurável da alma. Da sua alma fraca e doente.

- O que me falta? Por que o vazio?

Lembrou de Zeca, o baleiro que agora era cantor...

“Vida, vida... Noves fora nada!”

Como na canção, ninguém, dentre seus colegas mais próximos e amigos, ninguém lhe queria ver cuspindo ódio. Tampouco desejariam lhe encontrar usando ópio pra sarar a dor. Mas já eram 9:30 h do domingo. Era tarde demais.

Nos últimos dias, de um cara estressado e solitário, se tornara facilmente presa da bebida e das drogas.

A bebida dionisíaca era sua companheira nas noites quentes do Amapá.

“O cão engarrafado!”

Repetiu olhando a garrafa agora vazia, sentindo-se o próprio Vinícius de Moraes.

Mas não era ninguém...

Tinha um nome e idéias... Nada mais na vida.

Limpando a poeira impregnada em sua calça amassada pelo pós-sono, tentou encarar o sol. Cuspi-lhe as ventas em repúdio. Tentou brincar de Deus.

Vertigem.

Escuridão.

Tudo tão rápido que nem dera tempo de cogitar.

Silêncio.

Segundos correram depressa.

Mil homens nasceram nos cantos mais longínquos do globo terrestre...

Cansado do dia, cheio de ser vazio, um homem abre os olhos e na tela de seu computador observa canos se montando. Um sob o outro sobre o outro sob o outro...

- Putz! Peguei no sono durante o trabalho...

Desligou a máquina pensando...

“Obrigado Senhor pela vida vivida!”.