PABLO NERUDA... OU DIÓGENES?

O livro me foi dado, devidamente autografado; o vinho chileno tenho à mão, no aparelho de som um tango que fala de madressilvas em flor; de bicicleta não entrego cartas, mas posso caminhaar até a enseada para ouvir o barulho do mar. Eu, que não sou italiana, não me chamo Mário Ruoppolo, não sou carteiro nem tampouco inocente, sei o que significa “metáfora”, só preciso mesmo é de um trevo para desfolhar. E desfolhando saber por quem, em matéria de poesia, o meu coração balança:

Se por Neruda quando pergunta: “ Amor, amor aquel y aquella si ya no son, donde se fueron?” Ou por Diógenes quando responde: “ Em busca de outros danos, outros donos, outros enganos.”

Se por Neruda quando pergunta: “Ayer, ayer dije a mis ojos cúando volveremos a vernos?” Ou por Diógenes quando responde: “ O corvo de Edgar já respondeu never more”.

Se por Neruda quando pergunta: Como se llama la tristeza em uma oveja solitária?” Ou por Diógenes quando responde: “ Uma ovelha solitária chama a tristeza do campo”.

Se por Neruda quando pergunta: “Quién puede convencer la mar para que sea razonable?” Ou por Diógenes quando responde: “Quem seja maior do que o mar”.

Em louvor de Zélia Gatai e Jorge Amado, é o “LIVRO DAS RESPOSTAS”de Diógenes da Cunha Lima (FACE AO LIBRO DE LAS PREGUNTAS DE PABLO NERUDA), isto porque, segundo o poeta, esse casal de escritores aqui no Brasil espalhou ternura sobre Pablo Neruda.

A propósito, Zélia Gatai em seu livro “Um chapéu para viagem”, relata a passagem de Neruda e sua mulher Délia pelo Brasil no ano de 1945, ocasião em que, no estádio do Pacaembu-SP, Neruda declamou e Prestes falou ao povo. No Rio de Janeiro, para onde se deslocaram após a movimentação política de S. Paulo em honra de Luis Carlos Prestes ( por conta de sua libertação) , Neruda, Delia, Jorge e Zélia, passando de táxi no começo da madrugada em frente ao Teatro Municipal, voltando de um jantar após uma exposição de Pancetti, Jorge pediu ao chofer que parasse, desceu do carro, dirigiu-se a uma vendedora de flores que acabava de completar um latão com cravos vermelhos. Comprou todos os cravos e pela porta aberta do táxi, uma rajada de cravos vermelhos, orvalhados, cobriu Zélia da cabeça aos pés. Neruda jamais esqueceu dessa cena. Pouco antes de sua morte e na última vez que foi visto por Jorge e Zélia, recordou ele: “la lluvia de cloveles rojos em la madrugada...”

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 24/09/2008
Código do texto: T1194053
Classificação de conteúdo: seguro