Putas, amores e dores

Entre putas e amores revejo todas as minhas dores

O cerne de toda castidade liberta meu desejo vulgar, sujo

Trepo minha mente e meu corpo no corpo que para a frente

Escalo a desgraça e a solidão hábil e voraz em troco de um gozo

Calo e olho, sinto as palavras tristes, devolvo em ressonância e agrado

Pego, cuido o que não quero bem, por vezes me apaixono e ainda sim, sigo

Vejo as feridas pulsarem, a alma gritar socorro, penso e empurro ao fundo toda voz

Manipulo a felicidade, a possibilidade e faço possível um sorriso verdadeiro em meio mentiras

Visto minha demência e dispo toda roupa, tenho marcas e vidas, tenho o mundo

Te amo agora sem pudor e muito ardor, te esqueço amanha sem pudor e deixo você com sua dor

Não tenho palavras, teu inferno é seu e de mais ninguém, o meu, é meu e divido com você

Ardemos em chamas, gritamos, choramos, arrependemos de tudo o que foi feito e lembramos:

Fizemos tanto e construímos nada, tanto andamos, lugar nenhum chegamos, saímos, trepamos, crescemos e até votamos, e no fim, estamos aqui, mais uma noite, mais um amor,

Esquecemos tudo e todos, o que são e o que somos, putas ou amores, somos apenas, nós mesmos, e por fim, tudo se torna possível.