COMO NASCE O CONHECIMENTO?

 

                Outro dia li uma crônica de D. Zélia M. Freire* sobre o conhecimento e, ao fazer o comentário, ela desafiou-me a escrever uma crônica sobre o mesmo tema. Aceitei o desafio e agora me proponho a cumpri-lo.

                Falar de conhecimento é mergulhar no desconhecido. O que seria o conhecimento? E como ele nasce?  No dicionário você pode encontrar definições como “experiência”; conhecer é ter experiência de; os filósofos pré-socráticos asseguravam que o “semelhante conhece o semelhante”, mas é em Platão e Aristóteles que encontramos as primeiras bases sólidas para essa interpretação do conhecimento. Para Platão conhecer significa “tornar o pensante semelhante ao pensado”.  Assim, conhecer seria: “estabelecer uma relação de identidade com o objeto”, segundo o filósofo.

                Aristóteles é ainda mais rigoroso ao afirmar que a ciência “em ato é idêntica ao seu objeto”, pois a faculdade sensível e o intelecto potencial são simples possibilidades de conhecimento, mas quando elas se realizam há uma identificação com o objeto. Quando ouvimos um som (sensação em ato) nos identificamos com o próprio som. Essa doutrina permeia todo pensamento ulterior da tradição grega.

                Santo Agostinho usa este pensamento para explicar a trindade divina. Segundo ele, o homem pode conhecer Deus porque ele mesmo é a imagem de Deus. Memória, inteligência e vontade, em sua unicidade e distinção recíproca, reproduzem no homem a trindade divina de Ser, Verdade e Amor.  Os medievais não rompem com este pensamento, embora introduzam pequenas alterações em suas interpretações. Na modernidade Hegel vai dizer que “conhecer é o processo que unifica o mundo objetivo com o mundo subjetivo”, reafirmando o modelo platônico.

                O espiritualismo moderno vai nos dizer que o conhecimento é “a relação interna da consciência consigo mesma”; esta concepção de conhecimento como representação ou reconhecimento da realidade é rompido por Nietzsche. Ele se reporta a Descartes, Kant e Spinoza para refutar a existência de um conhecimento a priori, afirmando categoricamente que a faculdade de conhecer não é imanente, intrínseca do homem e não haveria, portanto, nenhuma relação entre o conhecimento e a natureza.   

                Foucault entende que o pensamento de Nietzsche contribui para o entendimento do conhecimento como resultado de um discurso construído com fins específicos, a saber – o poder. Ele concorda quando Nietzsche defende que o conhecimento é resultado do desejo de dominar. Não há o “reconhecimento” defendido por Platão, mas uma luta baseada no riso, no ódio e na revolta. Não é preciso “gostar” para conhecer. O desejo de dominar é que faz nascer o conhecimento. Assim, o conhecimento estaria mais próximo dos políticos que dos filósofos, pois são eles que travam a luta pelo poder e criam novos conceitos (conhecimentos).

                Assim como Zélia não tenho, ainda, opinião formada.De tudo que li e aprendi a nenhuma conclusão cheguei, portanto, assumo a posição socrática e repito: “tudo que sei é que nada sei”. E ele sim, sabia das coisas, mas esta é outra história. 



 


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*Imagem pesquisada na net.

               


                                            

                                               

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 27/09/2008
Reeditado em 27/09/2008
Código do texto: T1199232
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