Nhê-nhês e tomates

Viva o tomate! Vamos à trautineta dos tomates.

Cidade de Perth, na Austrália. Perth, uma grande cidade. Foi lá que verifiquei o quanto o imigrante italiano é ladrão e, como todos sabem, de longe, mafioso. Está-lhe no sangue. O taxista, um italiano, simpatérrimo na fala, cobrou-me do aeroporto ao hotel trinta dólares. No dia seguinte, um taxista australiano cobra pela mesma viagem, em idênticas circunstâncias e horas, menos de metade do valor e, ainda na devolução do excesso dos dólares, os conta um por um. Isso porque intuiu que eu não era filho da terra.

Agora, a trautineta. É que os senhores da Associação Comercial de Perth chamaram sua excelência, o Ministro da coisa, para explicar uma tal lei. Sua excelência, enredando-se no nhê-nhê, põe-se a explicar e nada explica. Falava e nada dizia. Ainda pior em demonstrações que o nosso ministro do futol. Pronto! Tomates para cima do homem.

Trautinetado, entomatado e, por isso, avermelhado como pitanga madura, sua excelência promete mudar a lei. Evidente, após a promessa, tudo acaba na festança do costume, com entrada livre para amigos, inimigos e neutros. Entretanto, um empregado adrede afeito a estas façanhas, veio limpar sua Excelência com toalhas e bacia preparadas para estes casos corriqueiros.

Agora, imaginem tomatadas, cá, em nossa terrinha. Por exemplo, quando, numa das assembleias do legislativo, os pais da pátria se dispuserem a votar o rotineiro aumento em causa própria de, pelo menos, quarenta por cento. Ou que a gente, mansamente carneiro nas filas de bancos Brasil e Bradesco, resolve curtir a explorada tristeza da espera com tomatadas. Imaginem o festival, rubicundamente colorido! Um senador entomatado! A fatiota do gerente do Banco estrelada a tomates! As preciosas cédulas dos reais a secarem ao sol devido aos tomates. As nenezinhas funcionárias, de rostinho aloirado, a respigar fios de tomatadas rosto abaixo. Espetáculo de arromba!

Pensemos. A trautineta dos tomates seria um corretivo exemplar. Não magoa, não fere, não arrepia. Tem, porém, o certinho e bondoso significado do protesto dos explorados e gatunados. Um vereador após duas ou três tomatadas por certo que não ia ter mais cara de pau de nhe-nhezar na tribuna. Um gerente de banco que não soubesse resolver a trautineta de uma tomatada teria de ir tocar violão noutra freguesia.

No caso dos bancos nem é a falta de dinheiro que impede a solução. De forma nenhuma. Um desses bancos - veio no jornal - teve, no ano findo passado, um lucro de sete bilhões de reais. Um outro está sorridente com seis bilhões de lucro nos seis meses já decorridos neste ano em curso. E nem de parar por aí a beleza saltitante do lucro de bilhões. Bilhões não são milhões.

Quando, para quando, o leilão das bonitas cadeiras - há quem nelas adormeça de tanto esperar - em bancos da Caixa? Quem entra num banco é para ser atendido. O funcionário é que tem licença de, sentado numa boa cadeira, esperar pelo cliente.

Face ao exposto, fica compreensível que a tomatada seria um procedimento terápico e higiênico, belo e inofensivo, barato mas seguro. Não fere nem mata, não rouba nem cobiça a mulher do próximo, nem exige venham os policiais com a sacola das algemas tristemente folclóricas. Contudo, sendo de plena eficiência para sanear muita coisa da nossa sociedade.