SENSAÇÕES COLORIDAS DE UM DIA CINZA

Se ele soubesse da quantidade de borboletas que percorrem minha barriga quando meu olhar encontra o dele, não seria tão displicente com meus olhos ingênuos. Se soubesse da perna bamba, do coração acelerado, da impermanência de qualquer outro pensamento fixo que não seja abraçá-lo quando estou ao seu lado, talvez pensasse na possibilidade de se posicionar sempre em tal distância que não fosse segura para ambos. Se soubesse da fome que tenho em lhe mostrar o mundo e apresentá-lo às mais diversas sensações que só um coração apaixonado é capaz de sentir, se ele soubesse de tudo isso, guardaria para nós os momentos mais emocionantes que ele um dia supôs viver.

Mas ele não sabe de nada disso, e possivelmente nunca saberá. Ele não sabe que tenho um coração que quer ser dele. E que esse mesmo coração que já sofreu algumas intempéries que só a paixão provoca, esse coraçãozinho ainda assim está disposto a sair do meu bolso e caminhar ao lado do seu para formar um par, o mais lindo par, de corações vagabundos que em nenhum momento perderam a nobreza.

Um dia, quem sabe, eu lhe conto todos os meus planos mirabolantes de torná-lo um homem feliz. Um dia, quem sabe... Enquanto esse dia não chega, fico com as borboletas, a perna bamba e o coração acelerado para compensar toda a loucura que é tê-lo ao alcance dos olhos, mas tão longe dos braços.

São Paulo, 26 de Setembro de 2008.

"Meu coração

Eu pus no bolso

Mas apareceu um moço

Que tirou ele dali

Não!

Isso não é engraçado

Um coração, assim, roubado

Bate muito acelerado...

Devolve, moço

Devolve, moço

O meu coração

Pro bolso..."

(Devolve Moço - Ana Cañas)