Garota Levada

Romântica, aquela menina. Fazia arte, aprontava, brincava como moleque, mas sonhava todas as noites com o príncipe encantado e acordava sorridente. Sabia que iria encontrá-lo, mais cedo ou mais tarde. Enquanto isso, aproveitava o tempo livre (e um pouco do tempo consumido em atividades escolares) para provocar coleguinhas, pregar peças, fazer meninos caírem no lago, cortar longas tranças de meninas chatas e tudo o mais que lhe desse um gostinho de poder sobre os semelhantes.

Voltava pra casa tarde e como se nada tivesse acontecido, entrava em seu mundinho particular, desconhecido por todos e ficava sonhando como se fosse Cinderela. Havia lido em algum lugar sobre a existência de almas-gêmeas e achou tudo aquilo tão lindo que não parava de pensar onde poderia encontrar a sua, se teriam a mesma idade, se a alma viveria nas vizinhanças próximas, saberiam que eram gêmeas quando se encontrassem?

Foi por isso que nunca mais brincou nem sonhou, depois do dia em que uma professora da escolinha a chamou de desalmada por haver amarrado os pés de tênis de um coleguinha à escrivaninha. Desalmada.... Assim, vazia.

Morreu um pouquinho por dentro. De que lhe valeria a vida se ela acabara de perder sua alma gêmea? Viu que de desalmados, o mundo estava cheio e qualquer um poderia ser seu par. Perdeu o romance.

Voodevilish
Enviado por Voodevilish em 30/09/2008
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