Na janela

O Pedrinho cresceu ouvindo dizerem que ele era um menino inteligente, cujo defeito é sonhar 24 horas diárias. No entanto, ele diz saber e discernir o que são as coisas boas e as ruins que podemos encontrar na estrada da vida.

Para ele não se trata de convencimento e muito menos papo de sonhador, e sim realidade, convicção. Pois o mundo dele não se traduz em seqüências de fenômenos psíquicos que involuntariamente ocorrem durante uma soneca ou uma “calmaria mecânica”. E ele diz também que isso não se trata de mera dedução de ilusões, fantasias, desejos ou aspirações. Essas coisas de ‘ar’, que nunca têm explicação concreta.

Uma coisa que o Pedrinho muito faz é se sentar na cabeceira da cama de seus pais, e se perder observando o lado de fora da janela do quarto, defronte uma rua pouco movimentada e um pomar do outro lado da calçada. É nesses momentos que ele abstrai as coisas enérgicas do mundo, daí sua convicção em não acreditar que sejam seus sonhos meras seqüências psíquicas de dormência, ilusões, fantasias, desejos, ou aspirações. Pois outras pessoas sempre lhe mostraram que o hoje vivido é aquilo sonhado durante a noite, claro que não do mesmo modo! Já que esses ‘sonhos’ são construídos por metáforas.

Os olhinhos negros de Pedrinho se enchem de brilho reluzente ao notar o costumeiro andarilho caminhando pela rua. E naquele mesmo espaço, naquela pequena janela o seu corpo fenece para a alma que visualiza o espetacular crepúsculo acontecendo entre as chaminés da fábrica de sacos plásticos, e logo adiante o caminhar do sol sobre as verdes folhas do abacateiro, que se tornam amareladas pelos raios solares.

Pedrinho tem apenas sete anos de idade, mas é sabedor de que os fenômenos psíquicos que involuntariamente ocorrem na cabeça de notórios dizendo se tratar de ilusões, fantasias, desejos ou aspirações, não têm nada haver com a fenomenal sensação de encontrar na simplicidade o sentido da vida.

Ah, o Pedrinho quer ser astronauta quando crescer, ele não tem nenhum aviãozinho de controle remoto porque seus pais não têm condições de comprar. Mas ele sabe fazer naves espaciais e Óvnis melhor do que ninguém, usando apenas caule de buriti. Sem falar que ele não tem nojo de minhocas e é o único da turma de três meninos a pescar cinco tilápias em menos de vinte minutos, sem falar na façanha de pegar cascudos no rego com as mãos.

Obs.: Eu conheci o Pedrinho quando eu tinha uns doze anos de idade, numa fazenda dos patrões da minha mãe, que eu freqüentava juntamente com o filho deles, o Leandro. Na verdade o menino que me inspirou esse texto, por nunca ter saído da minha memória, tanto pela inteligência quanto pela criatividade em fazer aviões de caule de buriti, não se chama Pedrinho, não me recordo seu verdadeiro nome, nunca mais o vi, nem sei se o reconheceria, é filho do caseiro de uma época.