Bissexualidade.

Afinal, és menina mesmo, mas até nisso somos semelhantes. Não em sermos duas meninas, pois, apesar de eu ter lado feminino, ele é lésbico, adora todo o turbilhão sentimental adolescente do ser a que tua alma pertence. Esse sim é o mais novo detalhe em que percebo semelhança nossa, a tua nova bossa encontra minha música negra se te tem domínio o ódio.

Quando tua raiva atonou hoje, dei-me conta de que, por mais precoce que seja, dezesseis, és semblante menina, reflexo interior, por vezes.

Teu medo é angustiante, tua raiva devastadora. Avassaladora impressão notei.

Também sou assim.

Caso continuemos, caso cobicemos a perpetuidade, chegará o dia em que a situação ficará invertida: eu estarei sentindo a mesma vontade de esganar, ver teu corpo definhar e teu olho adormecer lentamente; sentir teu calor se esvair, quebrar o gelo ao repelir o calafrio teleportado ao meu cérebro com simples toque.

Fisicamente, calorimetria.

A melhor cousa que poderá fazer enquanto personagem desse quadro conflitante é distanciar teu corpo da minha fúria. Por mais implosivo que seja meu eu, alguma fina ironia será destilada asperamente à fronte tua.

No entanto, como supracitei, minha alma bissexual ama teu exterior reflexo duplamente: enquanto a masculinidade gosta de puxar teus cabelos sem machucar, ou morder teu queixo devagar, prazerosamente, a lésbica que há em mim é viciada em tocar tua intimidade, perceber teus sinais, o quanto nossos mamilos são parecidos. Ela adora seguir o contorno do teu corpo com o toque suave da ponta dos dedos violados por poucos mas suados calos.

Esse derrame Lispector, cruzmaltina, está acontecendo na iminência da aurora, quatro e meia da madrugada, esperando ansiosamente o raiar novo, a partida da manhã e conseqüente chegada da escaldante Teresina de treze horas e vinte. Estarei na porta da tua escola, pedinte, ouvinte e incessantemente crítico em relação ao ocorrido de outrora.

A propósito, te tal acontecido tenho duas cousas a dizer:

Meu passado, realmente, tem de ficar guardado em mim, será apenas mosaico intrínseco a mostrar meus devaneios e erros.

Meus pequenos intensos acertos eu aprimorarei contigo, espero.

A segunda constatação já falei no texto inteiro, mas na conclusão de uma redação é sempre bom reforçar: ainda és menina. Por mais encantada que minh'alma esteja, nenhuma cerveja, uísque, rum, gin, vodka, mangueira ou absinto tornará pouco distinto que ainda tenho boas cousas pra te ensinar.

renato barros
Enviado por renato barros em 02/10/2008
Reeditado em 08/10/2008
Código do texto: T1207127
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