CONFESSO: RELUTEI...

Confesso que relutei. Minha mente se recusa a pensar e falar do que não gosta. Ela é seletiva, não viabiliza gastos neurônais com coisas ou fatos não digestos. Quando pensei haver passado o momento em papel branco, sem tinta, um fato se fez a meus olhos nus, de forma tão chocante que minha alma encobriu-se de uma tristeza misturada a piedade, junto a uma indignação tamanha. Sou intrinsecamente voltada para a valorização do ser humano. Até onde consigo vislumbrar gente é artigo de grande valia, sem distinção entre um mendigo ou presidente da República. Portanto, merece todo o respeito e atenção de seus pares, em especial, das autoridades que denominamos de competentes para cuidarem dos interesses do povo. Interesses do povo, eis a grande questão a ser tratada aqui.

O vento sopra momento de grande valorização do povo. Isso demonstram os administradores e vendedores de sonhos populares. E quanto será que custam os sonhos de um ser humano que acorda nas noites frias com pesadelos? Pois é só soprar outros ventos que a tempestade lhes roubam o sossego inventado.

Tempo de tomada de decisões, de votar. Eleger os representantes pra zelarem pelos baús de sonhos há muito adormecidos. Aí me veio a curiosidade de procurar no dicionário o significado da palavra política. Encontrei como resposta: arte ou ciência de governar. Li correto? Arte ou ciência de enganar. Para mim este seria o conceito ideal do modo como se faz política em nosso país há mais de quinhentos anos. E eu uma simples eleitora me recuso a aceitar este fato numa sociedade chamada de moderna, globalizada. Afinal o que é ser moderno? Modernidade enfileira conceitos e ações novos e derruba paradigmas ultrapassados. Ou quem sabe a ultrapassada sou eu e nem me dei conta. Afinal num país em que o certo está errado, onde os valores foram invertidos, devo ser mesmo torta por pensar diferente.

Bom, mas vamos ao fato chocante. Estava eu voltando do centro de minha cidade Mossoró/RN para o bairro Nova Betânia – diga-se nobre – quando me vi obrigada a parar e esquecer que tinha pressa em chegar ao meu destino, uma vez que o trânsito estava interrompido. Não me estresso mais com essas interrupções – são diárias - no trânsito, não por ser tranquila, mas não quero morrer enfartada. Tenho apenas quarenta e dois anos de idade e uma estrada longa pela frente que quero trilhá-la saudavelmente. O remédio foi então esperar a desobstrução para seguir viagem. Aproveito para esticar os olhos a fim de alcançar o santo motivador do problema. Preferia não ter encontrado o milagre, mas olhos não são cegos e nem meu coração. Há alguns metros de distância pude visualizar um carro de transportar animais parado e dele vejo gado, digo, gente descendo e cruzando a rua. Estiquei mais um pouco o olhar pra entender o que estava acontecendo. Foi quando compreendi que do meu lado esquerdo de portas abertas e sorriso largo abraçava os transeuntes um comitê político.

Então percebi que cada pessoa trazia nas mãos seus sonhos para depositarem no berço dos sonhos que nunca acordam, apenas são alimentados gulosamente pelos nossos candidatos a representantes do “povo” neste período eleitoreiro. Pessoas simples que chegam a ser puras de coração diante de tamanha enganação “política” que suas mentes, pouco estimuladas, são capazes de alcançar. E aparentemente tão felizes por serem recebidas num ambiente pra elas não merecedoras de estarem lá. Por isso só podem pisar aquele chão “sagrado” de quatro em quatro anos.

Se quisesse estender este assunto seria como puxar um fio de um novelo sem fim, mas minha mente cansada de ver tanta injustiça, limita-se a uma pergunta pertinente: Até quando o povo brasileiro vai ser tratado como gado marcado? Ê, vida de gado, povo marcado, povo feliz???

E assim caminha a humanidade... Após cinco de outubro do ano em curso, mais precisamente amanhã, após um lindo despertar do astro rei, onde te oferecerão tapetes de flores, tudo voltará à normalidade... A santa paz!!! A vida da população brasileira, pouco instruída, parece ser mesmo um conto de fadas, só que ao invés das fadas atuam as bruxas. Só me resta desejar a todos um feliz dia das bruxas. E tomando a liberdade cito aqui uma célebre frase do meu querido poeta Jacó Filho: “Que Deus nos proteja sempre”.

Fátima Feitosa
Enviado por Fátima Feitosa em 04/10/2008
Código do texto: T1210751
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