Meu Reino por Um Sorvete - PARTE 2

Parte 2 Continuação

Por Elizabeth Misciasci

-“Para para para! Ô Tonhão... Faz assim não! Se insistir em colocar esse painel torto, o fundo do cenário ‘não vai dá samba’ cara... Olha a ‘responsa’ isso vai pro ar”...

Enquanto o que mandava, gritava de cima do andaime, o tal Tonhão de dentro da cabine, operava a máquina e pingava de suor. Uma vez ou outra ele respondia, porém a concentração do Tonhão estava mesmo na alavanca. Impossível passar despercebidamente, não pelo guindaste móvel, nem tão pouco pelos gritos do mandante, que já era familiar aos meus ouvidos, mas sim, pela cena hilária e sem dúvidas, inesquecível!

Por bem pouco, não cedi ao sentimento, mas foi necessário tapar a boca com mão. Aquele momento foi de autopunição. Ainda creio que a educação, calou a iracúndia, que de mim se apossou, pois queria muito abrir o vidro e soltar três palavrinhas... Afrontosas sim, mas apenas três palavrinhas... No entanto, as engoli, e assisti um pouco do espetáculo, assim como todos os meus anônimos e desconhecidos “companheiros” de estrada. Porém, não imaginava o que ainda me custaria à pausa forçada sem opção.

Enquanto isso, o mandante gritava para, para, para e segurando firme a alavanca, Tonhão suava.

-“Para para para, mas pro meio, pra direita, um milímetro pra cima, tomba um pouco o lado esquerdo. Aí Tonhão! Para, para para! Pode parar nessa posição. O ‘almofadinha no pisante lá no térreo’ fez sinal de positivo! Agora sim! Você pode mandar a dona comadre assistir, e não te preocupa que ‘não vai fazer feio’ te dou minha palavra”.

Olhando com firmeza e seriedade para o mandante que gritava, Tonhão nada respondeu, secando a testa que suava.

Entre essas e outras, foi à vez do ‘tal almofadinha’ eufórico gritar: - “Para para, para! Valeu! Vamos mudar que a tomada agora é cem por cento do povão”.

Eu não poderia, nem tão pouco conseguiria esquecer “tão meigas e prosperas considerações”. Ainda consigo sentir o calor que subiu pelo meu corpo, esquentando tanto, que parecia queimar, marcando meu rosto de duradouro rubro. Sem dúvida, aquela tarde, perpetuou. Penso que pela sede e sem sorvete, absorvi sózinha o comentado...

O tamanho nervosismo, só me atrapalhava, foi quando enfim descobri, o que sem noção eu cantava:

"A palavra ganhou vida, não sei nem qual a razão, o que seria de todos, dividido na nação, como que profanada, desviou-se do mundão, a praga que foi rogada veio em minha direção, uma “profunda tomada”... Esta sem repatição. Com a profunda tomada que herdei, sem ter razão, contemplada cem por cento, com a tomada do povão".

Eu cantarolava e o almofadinha falava.

Sensação de dever cumprido! Plenamente satisfeito, demonstrava sorridente, o tal “almofadinha estufada,” que sem se intimidar, apenas determinava:- “Vai pessoal, desarmando acampamento. Agora, vamos ‘rodar’ do outro lado da pista assim aproveitamos e em mais uma hora e meia, a gente roda a cena final, aproveitando já faremos umas chamadas para o próximo horário eleitoral”...

Com notório puxa-saquismo, abraçado a um cidadão o então ‘almofadinha’ com a latinha na mão, erguendo comemorava, o feito e a precisão. Brindando em gargalhada, almofadinha e candidato patrão, foi aí que então nasceu, o melo da eleição. Rindo muito, relembravam a tão ousada ação. A maldade relembrada, era pura diversão, palhaçada planejada, sem qualquer preocupação, já que a última tomada foi só minha... E sem perdão.

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