DIÁLOGO DE UM AMOR PROFUNDO.
ANA MARIA RIBAS.
 
São 10, 30 da manhã de domingo, estamos indo votar e, de repente, bipolar que devo ser, sou envolvida por uma súbita alegria. Uma alegria mansa. Fico procurando um significado para aquilo que me veio, sem que eu saiba o que fazer com essa que me veio. Encontro um significado e compartilho com o Ivo,  como a criança que, totalmente fora de hora, mostra no pé, a meia nova:
 
- Ivo!!! Sabe que a idéia de sair em férias com você está me deixando feliz?
-Jura?! Que legal- ele diz, acostumado com a minha melancolia crônica.
-Eu só não sei para qual lugar vou levar você comigo. – falo pensativa, procurando na memória um único lugar onde eu realmente deseje estar. Parece que, longe dos meus netos, não há lugar. Mas netos não são “um lugar”. Ou são?
 
Ele responde cantando a música da cerimônia do nosso casamento, há 20 e unssss anos:
- “Deve existir um bom lugar só para nós, cheio de paz, cheio de esplendor, um bom lugar...”
- O cemitério. Eu digo em súbita iluminação. Nem macabra, nem triste, apenas em iluminação.
 
Rimos muito porque somos assim os dois: perdemos o clima, mas não perdemos a piada. Sem contar que, nessa altura da vida, o cemitério parece-me ser o único lugar cheio de paz e cheio de esplendor. Do esplendor e da paz dos que não sentem mais falta  de paz e cansaram do esplendor. 

Da secção eleitoral,  fomos visitar um casal de amigos e compartilhamos a piada;  e depois  passamos no restaurante, compramos um marmitex e compartilhamos o marmitex; e agora depois de compartilhar esse compartilhado minúsculo com vocês,  vou compartilhar com os meus gatos a soneca da tarde. 

Tenham todos um bom final de domingo. 

* A foto mostra, -  em momento Yoga news -o Gueny,  ( não é Geni é Gueni),  por quem também tenho um amor profundo.