VAI LÁ NA MINHA TAMBÉM.
ANA BERNARDELLI.

Ele me disse assim: "Ana, quando eu tiver uma filha, ela vai se chamar Sophia Bernardelli." E o nome dele é Emannuel Clélio, e o seu sobrenome não é Bernardelli.

Sempre visito Emannuel em sua escrivaninha. E ainda depois que leio o texto, leio o contexto: a linha e as entrelinhas. 

Ah, a compreensão das pessoas, a súbita iluminação do mundo do outro através da palavra, o desvendar de horizontes apenas pressentidos. 

E eu fico pensando. Que danado é esse Emannuel. Escolheu um nome para a sua filha que combina com o meu sobrenome italiano enquanto eu, dona do sobrenome italiano, escolhi para minhas filhas nomes brasileiros. O mais próximo de Berlusconi que me aproximei foi com Silvia Bernardelli. 

Mas:  a compreensão das pessoas. A compreensão do mundo que Emannuel me proporcionou com o seu comentário. Do mundo que ele guarda por dentro. Um mundo que lhe permite escolher o sobrenome como quem escolhe um nome. Um mundo que lhe permite fazer um sinal de positivo  mesmo diante das dificuldades da vida. Esse mundo que lhe permite a irreverência de passar por nossas escrivaninhas dizendo: "ei, vai lá na minha também."

Esse é o mundo que eu espreito. Esse é o povo que eu amo. Essa é a gente que me convém. Sem frescuras. Mas se de aprendizagem é feita a vida, os frescos também nos ensinam o valor de ser ligeiramente afrescalhado. Que por inteiro eu não aguento.
 
Ser gente é o maior empreendimento humano. Hoje encontrei um autor que toma xixi e o recomenda como estimulante sexual. Eu li e acreditei. Eu acredito. Porque sempre há o que se acreditar, procurando  a verdade subjetiva que corre como um rio subterrâneo, paralelo à verdade objetiva. 

Ser simples é a maior dádiva. Ser puro é manter-se incontaminado tomando xixi de manhã. Ser poeta é mais uma tendência do que um estilo de escrever. Adélia Prado nunca me deixou ser poeta mas ainda assim - sou.
 
E nesta manhã dedico a minha poesia a mim mesma. E me saúdo e me acho fantástica porque Deus tem-me concedido o dom de ver nos outros apenas o que eu gostaria que fosse visto em mim.

* Esse moço da foto é Emannuel. Vai lá na dele também!