Implosão anímica


    A sua face parecia talhada em mármore tamanha era a frieza e a inexpressividade do seu olhar que se perdia além da vidraça molhada pela chuva que não parava de cair desde a madrugada. Vez por outra ela passava as mãos sobre a mesma na intenção de limpar as gotículas que se formavam pela condensação do seu hálito na superfície fria do vidro.

    Lá fora a tempestade inexorável e sem regras delimitadas causava danos irreparáveis nas casas, nas ruas e nas vidas das pessoas. Relâmpagos cortavam o espaço numa velocidade assombrosa para logo em seguida se escutar o ribombar dos trovões que sugeriam a derrubada de imensas montanhas. 

    Um retardatário em passos rápidos cruzou a rua parando diante de uma porta que lhe foi aberta por alguém que não se deixou ver.

    Cães vadios corriam atrás de uma cadela no cio sem nenhum receio da fúria da natureza já que estavam movidos por uma fúria bem maior que esta.

    Um coaxar se fez ouvir ,longínquo. As chamas das lamparinas bruxuleavam como se estivessem dançando a mais sensual das danças enquanto o silêncio cantava alto para que todos sentissem a sua presença. 

    Dentro dela milhões de fragmentos estilhaçados contra a parede do seu Eu. Implodida pela força das recordações que chegaram sem terem sido convidadas, a sua alma gemia de dor, solitária!

    Olhava-a pasma e se perguntava como isto poderia ter acontecido?! Não tinha recebido nenhum aviso de implosão para aquele mês, ou aquela semana e muito menos para aquele dia. 

    Justo naquele momento em que pensava se recompor. 

    Implodida a alma ela se deu conta de que não passava de um espectro de si mesma. Abandonou a janela que lhe permitia apreciar a beleza da força da natureza e deixou-se cair pesadamente na poltrona.

    Com os olhos fechados vislumbrou a força torrencial que emergia de si afogando-a num mar de esperanças. Era o dia que surgia timidamente banhado de sol.




bjs soninha
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