MULHER INDEPENDENTE

Dia desses, numa roda de amigos; rodinhas dessas onde se discute filosofia de botequim, um deles se virou para mim e perguntou o que achava da atual situação da mulher. Não a mulher antiga, que só cuidava da casa, dos filhos e preparava a comida do marido, mas sim, da mulher moderna, que trabalha, que escolhe a hora de engravidar, que quer ser independente em todas as áreas, enfim, que persegue o ideal de igualdade com o homem. Pessoalmente, acredito que homem e mulher não podem ser iguais de forma alguma, por quê são partes que se completam para formar um todo. Logo, se tornarem-se iguais em tudo um dia, então será o fim.

Me senti, pela primeira vez, acuado numa discussão desse tipo. Sabedores que são eles (sacanas), que não sou políticamente correto, certamente em seu íntimo já riam ao imaginar a reação das meninas que nos acompanhavam. Seria um banho de chopp, beliscões dos mais diversos e com as mais variadas bitolas de unhas ou um pedaço de pizza entre os olhos?

Podia ver na expressão do olhar de uma delas, a clara mensagem: “olha lá o que vai dizer!!!”.

Bem, eu estava, estrategicamente falando, numa posição não muito confortável (caso precisasse fugir) mas foi a minha opinião que pediram e opinião não pode sofrer censura (pensei). Ai comecei a descarregar o que acho, mesmo sabendo que serei bombardeado sobremaneira pelas feministas de plantão, que fazem seu papel, mas às vezes exageram.

Pessoalmente fico triste quando vejo uma mulher dizer que quer ser independente do marido, ou até dizer que não precisa de marido, namorado ou homem, porque a si se basta. Vou deixar de lado a questão financeira porque está atrelada ao mercado de trabalho e este é volúvel pois atende apenas aos interesses de quem contrata. Empregador nenhum admite homem ou mulher, apenas pelo sexo, e sim pelo que pode render à empresa. Nisso, as mulheres já se igualam aos homens. No mercado de trabalho é a necessidade aliada à competência que conta, embora o acesso das mulheres a ele ainda se encontre limitado. Semelhante a libertação dos escravos, também a aceitação da mulher no mercado de trabalho teve motivos econômicos (não se iludam). A “patrãozada” só começou a admitir mulheres pois viam nelas a chance de ter despesas menores com folha de pagamento. Por força de minha atividade, tenho contato com departamentos pessoais de muitas empresas das mais diversas e é só nisso que se pensa. Igualdade de oportunidades e valorização: Esses são os objetivos pelos quais as mulheres devem lutar.

Parto agora para a questão afetiva. Infelizmente, existem mulheres que acreditam que ser independente é a solução para tudo e querem aplicar o termo a tudo. Isso não pode valer para a questão afetiva. Mulheres que se desiludiram em seus relacionamentos tendem a se fechar para novas possibilidades e se castram. Ficam amargas, pobres em sua condição feminina e canalizam sua carência afetiva, descarregando-a de outras formas, como se quisessem se convencer de que fugir é o mais recomendável. A independência financeira levou muitas mulheres a cair na armadilha de que ser sozinha é moderno, é bonito e se enganam tentando formar um mundo ao seu redor que atenda essa sua necessidade aos olhos do movimento e das outras mulheres. Não percebem que, enquanto ela está indo ao cinema sozinha, muitas outras estão lá procurando companhia ou já estão com seu “homem” de mãos dadas. Nem por isso deixam de ser independentes, porém, felizes mesmo estando na companhia do sexo oposto.

Parece bastante incoerente buscar a felicidade sozinha. Não acredito na felicidade una. “Eu” sou feliz; “Eu” vivo feliz; “Eu” não preciso de ninguém para ser feliz.

Será mesmo possível ser feliz sem um amigo ou companheiro por perto? Será mesmo que a felicidade está em não ter mais nada a fazer depois do trabalho, a não ser aquele passeio no “shopping”, comer aquela “hosted potatoes”, fazer umas aulinhas na academia para pagar os “pecados” da gula, digo, noite passada naquela churrascaria, ou o que é pior: Definir as curvas do corpo... mas para quê? ... Para quem? Ai dirão: “É uma questão de saúde!!!” Pura babaquice modernista. Todos os dias se ouve e se lê milhares e milhares de artigos sobre isso e não se chega a nenhuma conclusão, a não ser de que: cada pessoa é um ser único no universo, diferente de todos os outros e com reações particulares a tudo o que ocorre ao seu lado, em seu corpo e mente.

Para onde se jogam os desejos naturais? Numa esteira? Numa bomba de chocolate, num copo de cerveja ou ainda em apetrechos virtuais que só atiçam a imaginação? Para onde vai ser mandada a necessidade do calor humano, da presença de alguém, do colo, do carinho, do cafuné, do conversar ou do simples dormir abraçados, mesmo que ele seja um porco chovinista? Outra mulher compartilhando o leito? Não! Onde estaria a independência?

Mesmo que a relação seja cheia de problemas e desavenças, sempre é possível recomeçar, sem abrir mão do direito à liberdade e individualidade. Em algum lugar, esperando, está aquele ser que combina direitinho com outra pessoa, e que aceitaria dividir a sua vida, para viver feliz.

Temo pelas mulheres e ainda mais pelos homens. Se a coisa continuar assim, no futuro teremos homens frios e mulheres geladas. A humanidade se resumirá numa briga por “status” e lá nesse futuro, ao folhearem livros de história as meninas sem pais olharão e perguntarão às suas mães para quê serviam os homens e elas orgulhosamente responderão: “Para nada!”. Ai os meninos, também sem a figura do pai, perguntarão às suas mães independentes: “Se eu não sirvo para nada, por quê me deixou vir ao mundo?“

Assim encerrei minha narrativa. Tinha muito mais coisas a dizer, mas percebi que me alonguei e também queria que houvesse reflexão por parte deles. Se eu digo tudo e não levo as pessoas a pensar, então é solo infértil as minhas palavras.

Tinha dado parte de minha opinião sincera. Acabei dizendo que a felicidade e o amor não podem ser colocados no mesmo balaio da realização profissional ou da independência do outro, pois não pertencem ao mesmo gênero. Fiz ainda uma menção de que acreditava cada vez mais que a mulher só conquistará de forma definitiva a sua independência quando souber distinguir até onde vai um sentimento e onde começa um ideal. Como eles não podem se confundir, então nada impede que coexistam pacificamente sem que se possa jogar por terra aquilo que de humano ainda persiste em nós.

“É isso que penso pessoal”. Disse, desconfiado, olhando nas mãos das meninas. Uma dobrava um guardanapo olhando fixamente para o papel branco, como se estivesse distante. Outra comia com raiva um pedaço de pizza (um a menos para me acertar). Outra coçava atrás da orelha e me olhava como olhos de “dia desses te pego”. As demais discordaram de pontos aqui e acolá. Não discuti. Não discuto opiniões. Já estava satisfeito por não ter levado nenhuma copada. Para quê arriscar?

Pedi para trocar meu copo. O chope tinha esquentado enquanto eu falava. Ao sorver um pouco daquele líquido gelado e amargo, me veio à lembrança uma outra amiga que não estava presente. Feminista incorrigível e convicta, certamente teríamos um embate homérico. Ela saberá que é dela que estou falando, se chegar a ler este artigo um dia desses. Tenho medo só de imaginar! Ela não tem dó nem piedade de mim. É critica severa (jurei nunca mais dizer isso dela). Discordamos em muitas coisas mas, ainda assim, se mantém minha amiga e eu, totalmente dependente dela.

JD - 11/03/2006 14:36