Panacéia ou Panalena?
Nossa casa, na Rua Travessa Santa Casa, tinha um enorme quintal, onde conviviam quase harmoniosamente, galinhas, patinhos e gatinhos.
A horta era bem cuidada e bem sortida: alface, couve, almeirão, cebolinha, salsinha...
E o pé de chuchu, de jiló de árvore, de cará do ar? As abóboras – marimba, moranga – eram vigiadas a cada dia.
O pomar também era variado: bananeiras, mangueiras, goiabeiras, coqueiros, parreira de uva, laranjeiras, tomate de árvore ...
E tinha um gramado enorme que era chamado “quaradouro” e só a esse fim era destinado.
Não citei ainda as folhagens e flores que faziam a parte ornamental com mais propriedade.
Agora só falta falar, penso eu, das plantas medicinais: levante, marcela, hortelã, boldo. babosa, erva-cidreira, losna e tantas outras. A vizinhança, sempre que precisava, era prestimosamente socorrida pela minha mãe, com tanto recurso ali no quintal.
Entre tantas plantas, havia uma que era motivo de curiosidade para todas nós, as crianças: a panacéia. Não sabíamos para que servia. Tinha uma folha bem grande e toda peludinha. Minha mãe, de vez em quando, colhia algumas folhas e deixava-as secando em cima do armário da cozinha.
Minhas irmãs gêmeas – Maria Elena e Maria Célia, pequenas ainda, eram tratadas carinhosamente por nós de Lena e Céia. Sempre juntas, brincando, mas com as antenas ligadas, acompanhavam todo nosso movimento diário na casa e no quintal.
Um dia, o vento resolveu mostrar sua poderosa força e veio para dentro de casa, arrastando folhas, ciscos, derrubando roupas, e não se esqueceu de derrubar as folhas que já estavam secas em cima do móvel da cozinha.
Para a Célia, penso eu, foi um dia de glória. Chegara a hora da desforra. Tantas vezes ouvira falar seu nome como “apelido” daquela folha. Toda eufórica grita:
- “Mãe, a “panalena” caiu no chão!
Cielito,
Esta crônica dedico a você, que entrou como personagem principal.
Abraços, Fernanda