EU JÁ TENHO VOZ.
ANA MARIA RIBAS.

 
Desde que ouvi Rosemeri Tunala, declamando um poema, fiquei desejando criar uma palavra, em áudio, para vocês.  Mas – pensei- não sou poeta. O que  falar em hum minuto? E depois, me veio a questão do sotaque, terrivelmente do interiorrrr. Um sotaque caipira, do qual nunca consegui me livrar, nem fazendo muita força. E as questões técnicas: como gravar, sem uma mixagem, sem uma musiquinha de fundo? Ficaria muito pobre!  Enfim, a vontade foi ficando de lado, mas me era recorrente. De vez em quando, voltava lá de novo, e dá-lhe Tunala em “Como é Bom Sentir.” Sem mixagem nenhuma, ela por ela e só.   Essa Rosemeri é uma delicadeza das mais puras: uma voz pequena, mas essa voz pequena tem uma melodia que areja a alma, como brisa do mar. Ouçam! 
 
Na noite anterior a esta,  sonhei que  tentava incluir um texto e me vinha uma mensagem de retorno: “texto não compatível.” Espiei o tal incompatível: era pequeno, de poucas linhas.  Já lhes falei como dou atenção aos meus sonhos, e como tenho o dom de identificar quando eles vêem de Deus. Entendi o recado: era a hora de me dar voz, ou melhor, de dar-me em voz para vocês. Com sotaque e tudo.
 
Fui em busca de ajuda para conseguir gravar. Minha inexperiência me fazia pensar que seria necessário algum outro aparelho além do pc para realizar a transferência de arquivos. Na minha cabeça, só cabia a transferência vinda de outra máquina para esta. Pensei em ir ao Paraguai buscar qualquer coisa com gravador e o tal Bluetooh. Moro relativamente perto do Paraguai.  Mas com a alta do dólar, desisti de vez.
 
Meu MP4! Fui em busca do meu MP4, perdido há tempo, em alguma gaveta. Gastei cerca de dois dias procurando o dito cujo. Mas sou organizada, esse foi um episódio avulso - tenho uma filha que também usa o meu MP4 e daí resulta que não há um único lugar para esse.  Finalmente, quando encontro, não faço a mínima idéia de como gravar e como realizar a transferência.
 
Procuro o Maicon. Maicon é meu vizinho, fera no assunto. Ele vem, gravamos: a voz desaparece em meio a um ruído que parece estar vindo de Marte. Uma hora depois, e várias tentativas frustradas, tarde perdida,  Maicon resolve usar a chave que abriria o enigma:
 
- Ana, porque você não compra um microfone?
-Mas eu tenho um microfone...
-Ah, tem? Então traga lá.
 
Trago o microfone, o programa já veio na máquina. Dois minutos depois a minha voz inunda a sala, diretamente do pc. Para mim, ficou ótima, nem mereço tanto. Ganho voz e  o direito a, finalmente, “como é bom sonhar”.
 
São 22 horas e 35 minutos, horário em que escrevo. Já gravei 4 áudios, dessa qualidade que vocês poderão conferir ouvindo.  Todos eles com uma mensagem simples, baseada nas verdades mais simples da Palavra de Deus. Até eu me surpreendo com a simplicidade daquilo que me vem, quase improvisando: “a abelha foi chamada para produzir mel.
 
-Mas isso não é o óbvio, Deus?
-Isso é o óbvio visto do lado direito. Experimente virar do avesso.
-Então tá.
 
Dois minutos depois, entendo:  a abelha foi chamada para produzir o mel, mas ela acabou com ferrão,  picando as pessoas. Alguém estragou o projeto original de Deus. E por causa disso, a abelha  pica, e quando pica, dói. Que danada!
 
Começo a compreender que o mistério não é tão simples. Todos fomos feitos para um objetivo nobre, mas o ferrão, esse nos vem como um anexo de última hora, acompanhando o rabo. Ou a cauda, você escolhe.
 
 Eu fico com cauda. Acho mais chic.
 
E assim, com cauda e tudo, percebo que a iluminação é um dom que vem do céu, enquanto escrevemos, ouvimos, ou lemos, sem necessidade de grandes elucubrações mentais. Porque a palavra é uma semente e a semente contém vida. Mas a vida contida na semente não fica evidente, assim como a vida contida na palavra também está oculta. Mas, subitamente, um dia vinga, para aqueles que cultivam a terra. 
 
Esse "subitamente" vem de cima. E se não vier de cima e do alto, não virá, de nenhuma outra maneira.  E nem precisa vir pela voz de trovão,  de João Batista. Pode vir pela voz pequena de  Elias, o Tesbita.
 
 Mas essa é de Ana Maria: voz do interiorrrr do Paraná, do interior de mim, do interior de Deus. 

Aos mestres do Recanto das Letras - simplezinho, mas  com carinho!