Domingo sempre foi o pior dia da semana. E essa declaração não é nada original, visto que, para a maioria dos mortais, esse dia vem sempre acompanhado de péssimas energias.

Nesse dia, muitos (como eu) correm o risco de parecer negar a própria formação religiosa. Como diz minha mãe: domingo é o Dia do Senhor, é dia de agradecer...

E ela me ensinou isso desde sempre. Nunca houve um domingo, em minha infância, em que eu não fosse à igreja celebrar o Dia Santo. Fazia até parte de um coral (e isso é outra história)... E dentre tantas canções que entoávamos, lembro-me bem desta... “hoje é domingo, dia do Senhor, vejam como rezam essas criancinhas... o amor está chegando na nova geração, lá, lá , lá...”

E desta: “sim eu quero que a luz de Deus que um dia em mim brilhou, jamais se esconda, e não se apague em mim o seu fulgor...”

Na época, acho que eu nem sabia o significado da palavra “fulgor”, mas achava linda a canção. E cantava com todo o entusiasmo que a palavra encerra.

Bom, mas apesar disso, ou por causa, ou... Domingo sempre me soou como um dia estranho... E de muitas perdas ou derrotas... Não me pergunte que tipo de perdas.Talvez eu nunca tenha perdido nada num domingo, mas é como se isso sempre ocorrera......

E como se sentir bem em um dia estranho? Como celebrar uma data semanal de perdas ou derrotas?

Domingo, então, passou a ser o pior dia da minha vida, independentemente do que viesse a ocorrer...

Mas, também, um dia de reflexão... uma reflexão dolorida, carregada de poucas esperanças... Raríssimas vezes, uma reflexão serena... daquela que conscientiza... que mostra a necessidade dos términos para um recomeço na próxima manhã...

E hoje, numa das minhas reflexões, uma pausa inédita: lembrei-me das orações dominicais de minha infância. E da importância que elas sempre tiveram para que a serenidade suplantasse todos os outros sentimentos do meu coração (é... desde pequena meu coração se “pré-ocupava” de “pré-ocupações” ...).

Estava distraída, em meio ao trânsito lento e rastejante de todo domingo... E, de repente, o verso de uma música chamou-me à atenção... Uma música simples... Já a ouvira milhões de vezes... Mas nunca com o sentimento de hoje, pois, apesar de não ser “canção religiosa”, soou-me aos ouvidos como se fora...

E a voz conhecida ecoava: “ela me faz tão bem que eu também quero fazer isso por ela.”

Aumentei o som:

“Ela demonstrou tanto prazer em estar em minha companhia / Eu experimentei uma sensação que até então não conhecia / de se querer bem, de se querer quem se tem”...

E enquanto a música continuava, fiquei imaginando a relação entre as pessoas, seja na amizade, na família, no amor...

Quem, na verdade, nos traz tanta coisa positiva que, simplesmente, nos mova da inércia de todos os dias em direção à essa troca “quero também fazer isso por você?”

Quantas vezes realmente demonstramos tanto prazer em estar na companhia de alguém?

E mais... quando é que realmente nos tocamos de que há alguém que nos faz querer bem, de querer “quem se tem”...?

Bom, não sei quanto a você que está lendo este texto. Mas eu não precisei procurar muito. Olhei apenas ao meu lado... E o observei, com calma...

E um sorriso terno (dele, ao meu lado...) fez meu coração entender...

...o quanto é difícil encontrar alguém que demonstre satisfação só por estar perto... Alguém que queira estar conosco, que faça questão de nos fazer bem (e que não somente queira, mas nos faça bem)...

... E ainda, como é difícil a gente agradecer por isso.

Portanto, nesse término de domingo não quero registrar minhas queixas, nem perdas... nem dizer que meu domingo foi como os de sempre... Porque não foi.

Hoje quero, simplesmente, registrar meu mantra dominical que me seguirá, a partir deste momento, com o mesmo “fulgor” daquela canção...

E aqui vai ele (meu mantra de agora).

"Meu domingo é o dia da Oração... para meu bem querer... para meu bem me querer... para meu querer ser o bem do meu bem...
Amém."

(Adriana Luz – 17 de agosto de 2008)


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Adriana Luz
Enviado por Adriana Luz em 10/10/2008
Reeditado em 06/11/2010
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