Luzes

Pela útima vez que passei pelo centro da cidade as luzes estavam lindas. As árvores brilhavam com seus piscas-piscas... Uma beleza! Não era de se estranhar que tantas luzes só aparecem no Natal, quando as crianças esperam pelos seus presentes e os adultos pelo décimo terceiro salário. O clima simplesmente é outro.

Eu estava dentro de um ônibus, olhando tudo. Aquelas luzes me enfeitiçaram por um longo tempo. Estava vendo pessoas felizes, e o ônibus em movimento; As crianças brincando nas calçadas dos prédios, e o ônibus em movimento; Mulheres saindo do salão, o ônibus em movimento... Todos curtindo a antevéspera de natal. Me sentia feliz por saber que as pessoas estavam felizes, pelo menos naquele dia...

O ônibus parou num semáforo e meus olhos continuavam a observar tudo. Nessa hora notei um homem. Estava mal-vestido, magro, olhos tristes, andava com certa dificuldade... Deveria ter uns 65 anos. Esse senhor estava abrindo os sacos plásticos de lixo. Era de um material preto e brilhoso. Eu tinha a percepção que era o negativo das luzes brancas da beleza: Era a luz negra da fome!

Os senhores de gravata passavam ao lado, exibindo as dádivas que Darwin já pregava (sim, eles eram os mais fortes... e ninguem tem nada com isso). O pobre homem tinha os olhos fixos nos restos que encontrou, a fome apertava o seu estômago. Devorou o pouco que achou. De longe observei que ele estava chorando, e foi nessa hora que o sinal abriu.

A fome daquele homem não era fisiológica. A fome daquele homem era moral.