NOBREZA

Estava na sala de espera de um hospital público aguardando um

conhecido que fora buscar atendimento e, que a esta altura, estava sendo medicado.

Como sempre faço em lugares onde se concentram muitas pessoas, fiquei observado-as. Haviam os idosos, os jovens as crianças, os vendedores de doces e salgados, as atendentes, os seguranças. Enfim todo aglomerado humano que ali se encontrava. A fauna humana! Quantos dignos de observação mais acurada.

Minha atenção foi então dirigida para uma mulher negra, alta, esguia, ereta no sentar-se. Pescoço de modelo. Braços longos, mãos grandes com dedos finos e longos. Sem esmalte! Os cabelos já se tingiam de grisalho. Já passára dos cinquenta. Via-se que sua postura era fruto de uma educação e auto disciplina férrea que não admitia exitações. Talvez seu caráter seja da mesma natureza.

Vestia-se com simplicidade, mas com muita dignidade: blusa branca rendada, botões brancos quadrados, mangas tres-quartos. Não usava pintura. Adereço só dois brincos de muito bom gosto, de metal branco com pedras vítreas. Sua saia era de jeans e ía quase até os tornozelos. Usava um largo cinto marrom, que combinava com as sandálias na cor e desenhos.

Também ela, observava as pessoas e, como não poderia deixar de acontecer, nossos olhares se cruzaram.

Seu olhar era direto, firme, tão penetrante de invadir até a alma. Sustentei seu olhar sem me constranger, pois apesar de tudo, era um olhar até agradável.

O que pensava ela de mim? Que importa!

Continuei observando-a. Seu corpo quase não se movia na

cadeira, só a cabeça e, às vezes, só os olhos. Quanta nobreza!

Depois de alguns instantes, ela pegou em sua bolsa um pote, muito bem embrulhado. Fiquei curioso! Desembrulhou-o com toda uma formalidade; os talheres também, garfo e faca. Tirou a tampa do pequeno pote e colocou-o por baixo. Então, começou a degustar seu conteúdo. Eram cubos de melão. Dir-se-ía que foram cortados milimétricamente. Com o garfo levava um de cada vez à boca com movimentos precisos e elegantes. Mastigavá-os quase que imperceptivelmente.

Deixei minha mente divagar...

Uma rainha, sim uma rainha era o que eu via, sentada em um belo trono real degustando as melhores e mais requintadas iguarias em pratos de ouro, servidas em baixelas de prata junto aos comensais, seus convidados.

Suas vestes eram deslumbrantes, suas jóias únicas, originais. E sua corôa? Sim, sua corôa era a mais bela jóia e símbolo do poder, confeccionada por um artesão de habilidade ímpar. Quanta nobreza!

Ainda ficaria discorrendo sobre os móveis, quadros, salões, etc. Mas, voltei ao mundo real e fiquei me perguntando: De que Áfricas tu vieste negra rainha? Eu não sei!

Mas, sem medo de errar, posso asseverar: "quem é nobre faz o seu entorno." Quem não é faz como eu, observa e bate palmas. Salve a rainha! Salve a nobreza!

FARNEY MARTINS
Enviado por FARNEY MARTINS em 13/10/2008
Código do texto: T1226352
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