Dia do Professor - O que você quer ser quando crescer?

Antes, não via o encargo de lecionar como a mais atrativa das atividades. Até mesmo porque, para muitos, o que atrai numa profissão é a condição financeira por ela gerada. Na infância e na adolescência, somos alfinetados pela terrível pergunta: 'O que você quer ser quando crescer?'

Certamente, nessa época, não temos a menor noção da grandeza desta escolha, mas mesmo assim são raros aqueles que, sem titubear, respondem: 'Quero ser professor!' E os poucos que optam pela resposta talvez ouçam dos pais: 'Meu filho, você pode ser coisa melhor!'

Não adianta sermos hipócritas. Nós professores, às vezes, nos pegamos desestimulados, sentimo-nos mal preparados, mal reconhecidos, mal remunerados. Já ouvi alguns amigos de profissão, excelentes mestres, dizendo que se tornaram professores por acidente, por falta de escolha. E o engraçado é que, mesmo com essa alegação, não consigo vê-los como farmacêuticos, psicólogos, engenheiros, talvez fossem um desastre fora da sala de aula.

É um lugar-comum falar das dificuldades de um professor. Por isso, é melhor tratar daquilo que a maioria sabe, mas não vislumbra.

O professor é um ser de outro mundo. Ele é a figura com a qual vamos passar grande parte da nossa vida. Desde que entramos na escola, é a figura do mestre que nos acompanha. A tia da alfabetização não ensinou só o bê-á-bá, começou a nos moldar para o convívio em sociedade, saber ouvir, respeitar, a ler e escrever. O professor é um terceiro pai que muda de fisionomia conforme crescemos, conforme a necessidade de adquirir novos valores e aprendizados nos coloca mais adiante. Algumas pessoas convivem mais com professores do que com os pais; também não é pra menos. Na pré-escola, no curso primário, no ensino fundamental, no médio e no superior, o educador está lá, reinando. É por isso que alguns são tão marcantes, nunca esquecemos os mais engraçados, o mais inteligente, o mais rígido e o mais amigo.

Não podemos esquecê-los porque eles estão embutidos em nós, assimilamos suas condutas, seus argumentos, sua maneira de olhar e falar. Fizemos uma salada de aprendizados e nos tornamos o que somos hoje.

A sociedade desvaloriza o papel do professor, porque ele próprio, em determinadas situações, menospreza sua inigualável função. Quem lida com o ensino não é apenas um profissional; é um mago, um artista, um poeta, um operário, um espelho da vida, é o alicerce de todas as outras profissões, já que todas elas passam pela figura dele. O trabalho de um mestre é construir a vida, esculpir a matéria, coletar verdades e colocá-las na prateleira, abrir caminhos, sarar as feridas, esboçar desenhos, salvar as pessoas.

Professor, além de tudo, é aquele que sabe olhar as coisas a partir de outro foco, sabe redimensionar as visões de sua retina e transformá-las em matéria viva. O que faz de um mestre uma criatura sobrenatural, um modelo de conduta, de comportamento e de inteligência é a sua maneira de lidar com a existência, de ser agente de mudanças, capaz de lapidar a sociedade e de criar no aluno o desejo de buscar respostas, de ampliar seus horizontes.

Entre todas as profissões, pode não ser a de maior prestígio, mas a mais lucrativa é, indiscutivelmente, a missão de valor mais belo. Se alguém me perguntasse hoje o que, na infância, eu queria ser quando crescesse, eu estufaria o peito e diria: 'Eu queria ser professor!'

Geovane Belo