SAUDADE DOS CRISÂNTEMOS

Hoje o meu pensamento retrocedeu 25 anos, voltei à cidade onde nasci. Altamira, às margens do Rio Xingu, no Pará.

Morava em uma casa grande, circulada por varanda, cheia de vasos de flores, na frente, um jardim com plantas bem variadas, na lateral direita, plantei um abacateiro e um, jambeiro, no lado esquerdo, fiz uma horta, na parte de trás, um quintal dividido para criar galinhas e gansos, e os meus dois cachorros Dálmatas. Era um prazer acordar ao som da bicharada.

Sempre fui madrugadora, acordava cedinho e já ia para o jardim mexer com a terra, fazia isso enquanto a minha filha dormia. Como era prazeroso sentir os primeiros raios do sol, sentia-me no paraíso!

Um dia, uma amiga precisou viajar para o sul e resolveu doar suas plantas, eu ganhei três vasos com crisântemos, ainda jovens, sem terem desabrochado. Recebi com a maior alegria, troquei os vasos, pus adubo e eles passaram a ser as plantas preferidas (mas as Rosas Dálias e Menina não sabiam disso senão...). Incessantemente eu cuidava desses novos hóspedes. Com a mudança de casa, suas folhas caíram, ficaram sem brilho, mas depois, todos floresceram em um só tempo, e, qual não foi a minha alegria em ver que nasceram flores lindas, eram de um azul claro e lilás, cachos e cachos, encantadores, pareciam feitos de plástico, minha casa ficou mais bela, todos admiravam como os crisântemos estavam lindos!!! Eu ficava envaidecida, claro.

Eu vivia a intercalar os vasos, sempre os dispunha entre as Samambaias, e deitava no chão para ler e escrever meus rabiscos tinha 21 anos, estava casada, uma filha e feliz...

Mas um dia... Decidimos passar férias fora da cidade, um amigo ficou de ir a casa sempre para dar comida aos animais e molhar as plantas, fui tranqüila, ficamos vinte dias longe.

Retornar para casa é bom demais, logo que abri o portão, senti que algo estava diferente, o meu jardim fora escavado pelos cachorros, as plantas clamavam por água, soltei as malas e fui depressa à varanda, entre as samambaias amareladas, jaziam os meus crisântemos, as flores caíram no solo e eles morreram de sede, imediato, coloquei água em abundância como a querer de uma única vez, fazê-los retornar à vida, esforço em vão, nada mais restara, apenas os galhos secos...

Senti a presença de alguém ao meu lado, era o nosso amigo que observava o meu esforço para ressuscitar os crisântemos, pediu desculpas falou que viajou e deixou outra pessoa em seu lugar para fazer o que havíamos pedido, mas que infelizmente muito pouco fora feito, que até os cachorros a pessoa deixara entrar no jardim. Falei que estava tudo bem, que plantaria novamente outros crisântemos, mas dentro em mim já sabia que isso era pouco provável.

Fui deixando de cuidar das plantas depois disso, fiquei com algumas resistentes ao calor, como as Samambaias.

Depois de tanto tempo, mais duas filhas, mudanças interiores e exteriores, maturidade, conheci alguém muito especial em minha vida, que ao vir ao meu encontro, trouxe uma roseira de presente... Jovem, sem botões ainda. Plantei-a no solo, logo estava colocando suas belas rosas, retratei cada momento, antes e depois, mas como tudo é cíclico, ela morreu, só que antes deu-me alegria, esperança, prazer em cultivar novamente flores no meu jardim.

Estou indo para um novo lugar, onde poderei ter todas as flores que quiser cuidar. Também, já conto com alguém que está disposto a caminhar comigo e plantar as sementes e mudas que embelezarão o nosso jardim. Pretendo ter Crisântemos variados, rosas de muitas espécies, e, com certeza, juntos, não deixaremos de zelar por cada plantinha ali existente.

Onde estiver o nosso coração, ali é o nosso lar.

“...Me espera estou chegando com fome,

Preparando o campo e a alma pras flores,

E quando ouvir alguém falar no meu nome,

Eu te juro que pode acreditar nos rumores.

Me espera amor que estou chegando,

Depois do inverno a vida em cores,

Me espera amor nossa temporada das flores”.

Temporada das flores

Composição:Leoni