Cruz e Sousa – João da Cruz e Sousa

O Poeta Negro. O Poeta do Desterro. O Cisne Negro.

Biografia resumida (compilada por Osiris Duarte de Curityba)

1861 – Nasce no dia 24 de Novembro, dia de São João da Cruz, que lhe originou o nome, na então Capital da Província de Santa Catarina, cidade de Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, João da Cruz, filho do escravo Guilherme pedreiro de profissão e a lavadeira Carolina Eva da Conceição, negros puros, esta ex-escrava, liberta por ocasião de seu casamento. Ambos herdados. Guilherme, escravo do Coronel e depois Marechal-de-Campo, Guilherme Xavier de Sousa e de sua mulher Dona Clarinda(Clara Angélica)Fagundes Xavier de Sousa.

O sobrenome Sousa lhe é atribuído, conforme o costume da época, em adotar o sobrenome de família do seu senhor. Passa a viver como filho adotivo, no solar do casal, onde através de Dona Clarinda, entre 1865 e 1866, aprende as primeiras letras.

1862 – Batizado no dia 24 de março, pelo padre filósofo Oliveira e Paiva.

1864 – Nasce Norberto Conceição e Sousa, seu irmão, no dia 6 de Junho.

1865 e 1866 – Aprende as primeiras letras com sua protetora Dona Clarinda Fagundes Xavier de Sousa (esposa do Marechal Guilherme Xavier de Sousa).

1868 – Lê os primeiros versos ao Marechal Guilherme Xavier de Sousa.

1869 – Estudos regulares - entra para a escola pública do “velho” Fagundes, irmão de Dona Clarinda. Começa a recitar poesias suas, em salões, concertos e teatrinhos.

1870 – Falecimento do Marechal-de-Campo Guilherme Xavier de Sousa, comandante na Guerra do Paraguai.

1872 e 1873 – Matricula-se com o irmão Norberto no recém inaugurado Colégio da Conceição, sob a direção de Rozalina Villela Paes Leme.

1874 - Segundo os esforços do pai “pobre jornaleiro”, estuda no recém criado Ateneu Provincial Catarinense, juntamente com o irmão Norberto.

1874 – Em Julho, o naturalista alemão Fritz Müller (1822-1897), amigo e colaborador do naturalista inglês Charles Darwin e Haeckel, começa a lecionar no Ateneu Provincial Catarinense.

1875 – Falece aos 13 de Fevereiro, Dona Clarinda (Clara Angélica), esposa do Marechal Guilherme. No fim do ano, Cruz e Sousa deixa o Ateneu Provincial Catarinense. Onde estudou francês com João de Rosas Ribeiro, pai do seu grande amigo Oscar Rosas; latim, e grego com o orientalista padre Leite de Almeida, reitor do Instituto; inglês com Anfilóquio Nunes Pires, matemática e ciências naturais com Fritz Müller (outras fontes dão como improvável que tenha sido aluno de Fritz Müller). “Distinguiu-se acima de todos os seus condiscípulos”, segundo palavras de seu amigo Virgílio Várzea.

Outras fontes apontam como 1871 o início de seus estudos no Ateneu Provincial Catarinense, ano da morte de Castro Alves na Bahia.

1876 – Em outubro, o naturalista Fritz Müller, deixa o Ateneu Provincial Catarinense. Grandes elogios a Cruz e Sousa, e o seu caso é apresentado como reforço de suas opiniões anti-racistas (carta a Hermann Müller).

Outras fontes dão o ano de 1877 como o da saída de Cruz e Sousa do Ateneu Provincial Catarinense.

1877 até 1881 – Alguns biógrafos indicam este período como o início da atividade profissional de Cruz e Sousa, como professor particular, preparando candidatos ao magistério público. Ou como caixeiro cobrador, segundo outros biógrafos. Primeiros versos e os versos de circunstância são publicados em jornais (desterrenses) catarinenses.

1881 - Funda com Virgílio Várzea e Santos Lostada, o jornalzinho hebdomadário Colombo, cujo 1° número é consagrado a Castro Alves, por ocasião do 10º aniversário da morte deste. Exercícios com versos condoreiros. Fixação no poeta (Castro Alves) que deixaria para sempre sensível marca na poesia de Cruz e Sousa. Viagem ao Rio Grande do Sul, de navio, participando da Companhia Dramática Julieta dos Santos, uma menina prodígio, desta Cia de Variedades, na função de ponto.

Em seguida prossegue por dois anos em viagem “percorrendo todo o Brasil – Norte a Sul” (palavras de Virgílio Várzea), durante a qual profere conferências abolicionistas em diversas capitais. Acentua-se então seu fascínio pelo mar, registrado em diversos textos de seu primeiro livro importante Missal. Adesão à chamada Escola Nova, na realidade o Parnasianismo. Nessa ocasião, entra em contato com obras de feição realista: Baudelaire, Leconte de Lisle, Leopardi, Guerra Junqueiro, Antero de Quental, entre outros.

1882 - Começa a redigir em a Tribuna Popular. Participa da “Guerrilha Catarinense”, violenta polêmica literária pró e contra o Realismo. Eram também jornais da época: O Jornal do Comércio, O Despertador, O Caixeiro. A pequena Desterro con-tava então com cerca de 10.000 habitantes. O recenseamento de 1872 contou 9.108 habitantes, e o de 1890, 11.038 habitantes. As fontes são omissas em relação aos escravos.

1883 – Primeira estada no Rio de Janeiro, na casa dos pais de Moreira de Vasconcellos, que residiam no bairro da Saúde, em frente da casa do poeta e médico catarinense Luís Delfino. Retorna a Santa Catarina, ocasião em que o sociólogo Dr. Francisco Luís da Gama Rosa, é nomeado presidente da Província. Cruz e Sousa é aproximado do presidente Gama Rosa. Publica no Desterro, em parceria com Virgílio Várzea e Santos Lostada, o livro-folheto de poemas “Julieta dos Santos” em homenagem à menina-atriz. Raimundo de Correia publica Sinfonias, um dos livros capitais do Parnasianismo, com prefácio de Machado de Assis.

1884 – Deixa o governo o Dr. Gama Rosa, que nomeia Cruz e Sousa Promotor em Laguna. Ato impugnado pelos chefes políticos, não tendo o poeta tomado posse. Nova viagem ao Norte. Artigos enviados de Janeiro a Abril.

1884 - Homenagens na Bahia, promovida pelo jornal Gazeta da Tarde e os clubes abolicionistas Libertadora Baiana e Luís Gama.

1885 – Lança no Desterro (Florianópolis) o livro Tropas e Fantasias (prosa) em parceria com Virgílio Várzea. Assume a direção do jornal ilustrado O Moleque, título dado em desafio ao preconceito de cor.

1886 – Excursiona ao Rio Grande do Sul. De volta relaciona-se com uma pianista loura da Praia de Fora, que aparece e lhe inspira vários textos daquela época.

1887 – Trabalha na Central da Imigração. Oscar Rosas convida-o a ir ao Rio de Janeiro, a Capital do Império, a Corte.

1888 – Em estada na Corte, estreita amizade com o poeta Oscar Rosas, conhece Luís Delfino, médico e poeta catarinense, B. Lopes e Nestor Vítor, este último tornar-se-ia seu grande amigo, admirador e editor do poeta Cruz e Sousa. Leituras de Edgar Allan Poe, Huysmans, Sâr Péladan, Villiers de L’Isle Adam, entre outros simbolistas europeus. Apresenta a José do Patrocínio um livro de versos chamado Cambiantes, que não chegou a ser editado. Consta que em tal livro continha poemas abolicionistas, dos quais se conhece o poema Escravocratas. Abolição da escravatura, Cruz e Sousa escreve o soneto A Pátria Livre, sobre a Lei Áurea e o destino dos negros.

1889 – Retorna ao Desterro em 17 de Março, por não ter conseguido colocação no Rio de Janeiro. Leituras de Flaubert, Maupassant, Alphonse Karr, Theóphile Gautier, Gonçalves Crespo, Cesário Verde, Teófilo Dias, Luís Delfino, Ezequiel Freire, B. Lopes. Dois poemas seus são publicados no jornal Novidades, antes de seu retorno a Santa Catarina. Reações entusiasmadas de Raul Pompéia à leitura de Asas Perdidas, de Cruz e Sousa, feita por Oscar Rosas, no Teatro Lírico, num intervalo de Aída.

1890 – Recebe a visita de Nestor Victor, que embora jovem, adquirira bastante prestígio no Paraná. Essa visita foi uma consagração ao poeta humilde e sem reconhecimento.

1890 – Em novembro deste ano, muda-se definitivamente para o Rio de Janeiro, a ex-Corte, ex-Capital do Império, onde trabalha como noticiarista na revista A Cidade do Rio de Janeiro. Adere ao Movimento Decadista (simbolismo). Nesta época, lia com certeza, Stéphane Mallarmé. Colabora na Revista Ilustrada, de Ângelo Agostini, onde era secretário seu amigo Oscar Rosas. Consegue empregar-se no Rio, por intermédio de Emiliano Perneta.

1891 – É publicado do periódico Novidddades, o longo poema Arte, uma espécie de prototexto de Antífona, demonstrando suas convicções estéticas, ainda com acentuadas influências parnasianas de Theóphile Gautier, mas também com sugestões mallarmaicas (Mallarmé). Colabora no efêmero jornal O Tempo, que em agosto anuncia a morte, no Desterro, de sua mãe Carolina Eva da Conceição. Artigos-manifestos do Simbolismo, na Folha Popular, onde era secretário Emiliano Perneta.

1892 - Publicações na imprensa carioca de alguns textos que seriam depois reunidos. Esse foi o caso de Tísica, prosa poética reveladora da adesão ao nefelibatismo estéticista. Publica-se em Portugal dois importantes livros para a formação literária de Cruz e Sousa: Os Simples (versos de Guerra Junqueiro) e Gouaches (prosa poética de João Barreira). Conhece Gavita Rosa Gonçalves, próximo ao cemitério do Catumbi, também negra, com viria a casar-se. Colabora no periódico Cidade do Rio de José do Patrocínio.

1893 – Publica em fevereiro, pelo editor Fernando Magalhães, pela Casa Magalhães & Cia, Missal (Prosa). Em agosto publica Broqueis (verso). Casa-se com Gravita (já grávida) em 9 de novembro. É nomeado praticante de arquivista da Central do Brasil, em dezembro.

1894 – Cruz e Sousa é promovido a arquivista, com salário de 250$000 (250 mil réis). Nasce a 22 de fevereiro, seu primeiro filho Raul. Começam as dificuldades financeiras.

1895 – Recebe a visita do jovem advogado e poeta Alphonsus de Guimaraens, simbolista mineiro que vem especialmente para conhecer o Cisne Negro (Cruz e Sousa). Nasce a 7 de outubro seu segundo filho Guilherme.

1896 – Em março, esgotamento nervoso de Gravita que duraria 6 meses, devido a carências alimentares, em meio a extremas dificuldades financeiras. Por esta situação escreve Balada de Loucos, do livro Evocações e Ressurreição do livro Faróis. Morte de seu pai “mestre” Guilherme, comunicado por telegrama em 29 de agosto. Fundação da Academia Brasileira de Letras, da qual Machado de Assis seria seu primeiro presidente e para a qual o nome de Cruz e Sousa sequer foi cogitado. Reuniões em um cenáculo simbolista denominado “Antro”, num segundo andar da rua do Senado.

1897 – Revê as provas finais de Evocações, que sairia postumamente. Nasce a 24 de julho seu terceiro filho, Rinaldo. Agrava-se seu estado de saúde (tuberculose). Algumas cartas desse período revelam a mais pungente miséria física e moral. Nesta deplorável situação, o poeta escreve, Últimos Sonetos, que seriam publicados em 1905. Entrega seu espólio literário a seu amigo Nestor Vítor.

1898 - O Brasil inteiro se comove com a doença, pobreza e com o desamparo social de Cruz e Sousa, a ponto de diversos jornais da capital e do interior promoverem listas para arrecadação de dinheiro em seu favor. A idéia da morte ronda o poeta, contaminando os seus últimos poemas. Em 15 de março, parte para Sítio (hoje Antônio Carlos) em Minas Gerais, juntamente com Gavita, também acometida de tuberculose, em busca de um clima propício para melhoras da saúde, já extremamente debilitada. Morre a 19 de março, sendo seu corpo recambiado ao Rio de janeiro, num vagão de transporte de cavalos. José do Patrocínio encarregou-se dos funerais. Foi sepultado no cemitério São Francisco Xavier. São publicados seus poemas Evocações, por iniciativa de Saturnino Meireles.

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