A morte do gogo boy.

Que as palavras não faltem e que a narrativa seja fiel como os ponteiros de um relógio que marcam as horas exatas, os minutos que passam, os segundos vividos, os milésimos, enfim, sem aquelas surpresas Cinderélicas de horas marcadas... Sem pressa e sem quebra de pensamento porque a informação detalhada condensa o momento seqüente da hora anunciada, a emoção decorrente do acaso, a balada primeira de uma série de aventuras que ainda estão por chegar. Abram-se então os ouvidos e o coração. É preciso primeiro dizer dos envolvidos: “Qualquer semelhança com algo real, é pura coincidência”.

_ A palavra de ordem é luxo, tudo nos conformes. Holoforte, Brá!!! Brá!!! Brá, brá braááááááá.... Meu leque, mona. Hora de checar o som, luz, globo girando, girando, girando..., fumaça... Babado!!! Essa é a noite do sim, da afirmação, a deusa patética renascer das cinzas, tou roxa, de pileque... Tapetes vermelhos estirados para a diva desfilar, isso, isso, isso, lá vou... É chegada a hora das princesas bombarem...

A vida presente na arte, a vida gritada em ecos, nas buzinas dos carros, no atropelo, na marra. Nos becos, nos guetos e em grandes cidades urbanas. Pit, pit, pit de tantos carros e um aglomerado de seres querendo se entender. Engarrafamento e mais um pivete no sinal vendendo dropes; mais adiante aquele que limpa o pára-brisa por alguns trocados enquanto outros preferem arrombar as portas e carregarem as bolsas das madames. Fora da boate, uma fila única que se forma e na bilheteria fixado o nome encerrado. Chegada assim os primeiros, aqueles que anunciam as coisas em perfeito estado, se isso existe e que Narciso estremeça na massa corpórea delineada e que as formas cubistas sejam tão necessárias como o último metrô da madrugada...

A cor vermelha do espaço marca o tom da balada, vermelho paixão, escarlate, quente como quente são os corpos pintosos, os aromáticos, performáticos, aqueles que escorrem suor e a soma do tudo é resultado dos que se acham e são chamados de perdidos; espelhos nas paredes e bacias de alumínio por todos os lados, cantos e espaços. Espelhos da Vênus afrodisíaca, perplexa pelo espaço de batalha, de enfrentamento tatâmico, demoníaco o arco da chama luminosa, reflexo da imagem desenhada e um Prometeu acorrentado em corrente prata, olhando, olhando para onde? Alumínio, candeeiro para imagem detalhadas... Do teto vinis fazem o designer, vigiados por luzes em cores diferenciadas, marcas de décadas passadas que em mesas e mãos do Dj fazem da festa uma loucura, a cura louca da gente ensandecida; mesas, cadeiras, quadros, garrafas, mais a frente as portas dos banheiros, de um lado o deles, do outro o delas firmados em símbolos de masculino e feminino. Garotos e garotas da noite, som, luz, azaração:

_ Garçom, um drinque, o por conta da casa. E não esqueça a azeitona!!!Bráááááááá, estou louca... Pra beijar sua boca, lindo!!!

Roupas em modelitos esdrúxulo, cada um com sua combinação e acertando na criatividade em excesso de detalhes ou simples camuflagens, loucura total. Criações, ajustes, toques personalizados, embora o preto prevaleça e maquiagens dêem o ar da graça: rostos borrados em cores vibrantes como pontos luminosos, tatuagem em corpos sarados, pernas de fora, piercing, cigarros, o último da moda...

_ Alguém tem fogo? E fumo? Porque eu fumo, mas não trago!!!

E assim a loucura rola. Loucura estampada ou em cores de zebra, na garganta profunda se afunda em fumaça o grito lançado, o pedido de fogo e pelo gozo do prazer comprimido, isqueiros, fósforos são acesos para que não se perca a ocasião.

_ Solta o som Dj, a moçada tá mortaaaaaaaaaaa....

_ Solte esse trem querida... Luxo!!! Tudo.

Primeira atração da noite, sobre um queijo voador e muita fumaça. Voando sobre as cabeças do povo da noite, um ser ensandecido gritava palavras de ordem enquanto delinqüentes juvenis batiam cabeças, soltavam o corpo e em uníssono respondiam ao pancadão de som...; da músicas outras palavras:

_ De garganta seca não dá né meu bem, solta um gim-campari sem gelo duplo aqui vai... Luz!Leque!Espelho! Close...Oi,oi,oi,oi...Tá dando? Tá não? Tô perguntando, lasqueira boáááááááááááá, se tá dan-do... Dan-do pra ouvir, né meu bem, ocó,ocó,cococococococococococ!!!

Enquanto isso, do lado esquerdo do espaço, uma escada giratória, um corpo comprido se comprimia em minúsculas roupas... Era corpo de homem: musculoso, espadaúdo, pernas pesadas em músculos bem definidos, abdome de fazer inveja, mãos largas, cabelos bem cortados e rosto em máscara... Aquiles? Hércules? Grego? Deus? Romano? Um ser humano, o mais humano dos seres, ali, mas a claridade dos olhos e dos dentes era vista pelo reflexo da luz. Percebível também era que a cada volta da escada, o rapaz voltava com uma parte de roupa a menos... O corpo a mostra e o povo a delirar em gritos, na maioria das vezes, onomatopéicos, insinuosos, lascivos... Gritos nascidos do âmago da alma, aflorados, rasgados; alguns até como uivos...

Do outro lado do balcão, os que trabalhavam em quanto a massa na geral fervia freneticamente, os responsáveis para agradar, servir, trazer a bebida gelada, o cigarro aceso, os servidores da noite para que a noite seja realmente estrela e aconteça... Bandeja que vem, bandeja que vai e entre uma vinda e outra, uma reclamação porque demorou, porque derramou, porque não foi aquela bebida solicitada...

- O bofe tá de bode ou é de foda mesmo?! Meu cabelo, a tinta, trás logo minha bebida!

- Ei, você não é aquela mina?

- Cai fora, caipira, a roleta girou, se liga!

- Beleza, mas na sua testa escorre, a tinta. Que lenço?

- Um drinque, paga? Simpatia...

Mas a música não pára, o ritmo muda, muda a luz, o ambiente vibrante, a carga energética dos gritos e unhas que arranham os braços que passam uns pelos outros a se estranharem e a se fundirem em urros de desejo até que as portas laterais se abrem, se abrem em segundos para os miseráveis que esperam possam também entrar em chance de 0800... Fecham-se as portas e um uivo de vaias deliram quando aparecem outros homens e outros queijos e o sonho do Ícaro realizado: Vôo de corpos de seres de desejos de vontade de carne de paixão de palavras de músicas de delírios de imensidão de liberdade de...Bocas que se encontram, corpos que se torcem e...

Um tiro livre, arremessado, solto, para qual direção? Quem sabe? O tiro que acerta o peito atlético do homem da escada que gira em caracol; o homem caindo aos poucos em câmera lenta, ou efeito da luz, do estroumbo, caindo o corpo encharcado de sangue do tiro que alojado ao peito do corpo atlético do homem que em pouca roupa, sem quase roupa dançava girando na escada; o corpo caído, sustentado pelo último degrau da escada que até tão pouco tempo girava... O corpo esticado ali estava, agora, parado.

Alvoroço de corpos, de cores, de gente que em desespero corriam para todos os lados e as portas laterais que há pouco tempo tinham se abrido agora não se abrem e um segurança na porta principal, a todos deixavam trancados:

- Parados todos! Ninguém entra, ninguém sai.

- Passado!!!Pretérito mais que perfeito condensado, em noite de estréia? Ninguém merece tamanho despacho... Chuta, chuta que é macumba, nego! Vê se cobre a lasca do oco, mona, ai,ai, ai...

-Ninguém faz nada. Todos em seus devidos lugares até que cheguem as autoridades, os homens de preto...

- Nossa, quanta maldade... WWW.com. selasqueeaiaiaiaiaiaiai.

Alvoroço e ninguém percebia o sangue escorrendo do canto da boca, descendo o queijo, batendo o chão e em carreira chegando aos pés de... O sangue se transformando em performance, aos poucos mutante em cor desbotada e a carne tesa gritando, a carne ali, a carne quebrada com o silêncio de um grito estridente:

-Fechaçãooooooooooooooo...ôôôôô...Ploc!!!

- A mona surtou, é fome!!!Tome, tome, tome leque... Blá, blá, blá... Presunto, louca, veja a cena!!!

_ Passada, meu peito, alguém viu? Perdi.

_ Morraaaaaa !!!!I will survive!!!Funck, funck, funck you!!!

De repente, bem na frente, um grupo de bate cabeça girava os pescoços em 360° e o apito do guarda anuncia todos encostados nas paredes, mãos na cabeça e todos de agora em diante são suspeitos.

O rubro do sangue que escorria se misturava com o vermelho latente do espaço e agora os rostos que antes eram de azaração, agora são rostos decaídos, solidários. A noite que prometia ser, agora se tornara em e um leque de interrogações era formado. O tiro viera de onde, o tiro era para qual lado? Um corpo no chão estirado e ao redor vários corpos manifestados em...

- Amor, pra não voltar o pedido, trás aqui essa porção de batatinha frita que vou comer agora, sentada que não estou morta, estou sim com os pés em calo. Alguém me abana por favor...