Doente...

A paciente chega ao Pronto Socorro do hospital particular, onde costuma ser atendida com seu plano de saúde. É sexta de manhã e ela não suporta mais a dor na área dos rins e a febre e procura o pronto atendimento. Senta-se à frente do médico L.P.M., que sequer lhe dá bom dia. Parece que o dia chuvoso não faz muito bem a ele. A paciente, então, relata-lhe sua dor, que é forte, a ponto impedi-la de trabalhar naquele dia. Ela fala de sua história de infecções renais repetitivas, que ocorrem há muitos anos, e diz-lhe também que fez febre na noite anterior. E aí, segue-se o diálogo:

“Está sentindo ardência ao urinar?”

“Não, senhor, nunca senti.”

“Então você não está com uma infecção urinária.”

“Mas eu fiz febre ontem.”

“A senhora pegou algum peso ou dormiu de mau jeito? Pode ser somente uma dor muscular.”

“Doutor, tenho este problema há quase 20 anos.”

“Dores musculares podem ser facilmente confundidas com dor renal. Quer tomar uma injeção?”

“Não doutor, não quero uma injeção. Já tomei um Buscopan em casa. Olha só: eu estou aqui porque não consegui encontrar nenhum nefrologista que me atendesse hoje, e como não tomo medicamento sem orientação médica e preciso ser medicada, estou neste Pronto Socorro.”

“Então está bem. Vamos fazer um exame de urina só para confirmar tudo isso.”

Termômetro? Aparelho de pressão? Cadê?

Mais ou menos uma hora depois, com o resultado do exame nas mãos, ela retorna à sala do médico.

“É, está mesmo com infecção.”

“É, doutor, já estou acostumada com isso.”

Sem nenhuma palavra, explicação, orientação ou coisa parecida, ele preenche uma receita de antibiótico, que ela deveria tomar de 12/12 horas durante três dias.

“O senhor pode me dar um atestado?”

Ele atende ao pedido dela, sem olhar para cima.

Na quarta-feira da semana seguinte, sem nenhuma melhora nas dores, somente sem febre, ela faz sua consulta com um especialista, um nefrologista. A receptividade é outra, a infecção confirmada e os devidos exames solicitados. Porém, a paciente foi surpreendida, ao saber que além de ter sido mal atendida no PS do hospital particular, ainda havia sido medicada errado. “Com sua história de infecção, você deveria tomar um antibiótico no mínimo por dez dias. Esta prescrição feita em você normalmente é para infecções baixas, como a cistite. Com apenas três dias há só uma pequena diminuição das colônias de bactérias e as que permanecem vivas, além de sofrerem uma mutação, ainda se multiplicam rapidamente”. Legal, né? Então, tá.

A paciente sai do consultório com muitas dores, mas confiante no tratamento que estava se iniciando naquele momento. Teria que fazer uma série de exames, tomar mais antibióticos por dez dias e depois da infecção, encarar um longo período de manutenção, com outros medicamentos. Agora, mais tranqüila, ela reflete sobre os pacientes ignorantes, que chegam diariamente aos hospitais e que confiam cegamente nos médicos. Não sabe como sobrevivem esses pacientes. Também não sabe porque L.P.M. fez medicina. Afinal, a questão é realmente séria porque ela não é um personagem de ficção. Porque esta história é real. A paciente sou eu.

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 19/10/2008
Código do texto: T1237123
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