Fobia Social

Muita gente pensa que quem busca por um tratamento psiquiátrico é louco, que a pessoa tem alguma demência. Existem várias doenças, que são classificadas como mentais, mas são desencadeadas por problemas emocionais e passam longe da loucura, e somente um psiquiatra pode tratar, como: Psicose, transtorno do sono. transtornos alimentares, tique e cacoetes, Síndrome do pânico, distúrbios de memória, Síndrome das pernas inquietas, Fobia social, dor-de-cabeça (cefaléia) e, etc. Claro, todo tratamento terapeútico sempre precisa ser reforçado por um anti-depressivo, medicacão fundamental para a cura dos distúrbios. Muita gente também pensa que tomar anti-depressivos cria dependência, não é verdade, na maioria dos casos a pessoa sente-se completamente curada e a medicacão é suspendida, raramente precisará retomar o tratamento.

Hoje meu texto é para relatar minha experiência e drama pelo qual estou passando, uma forma de alertar as pessoas e também incentivá-las a buscar ajuda.

Sempre me considerei uma pessoa tímida, mas uma tímida disfarçada, pois relacionava-me com muita espontaneidade com a pessoas. Tinha muitos amigos e trabalhei sempre com o público. Lecionei alguns anos. Sempre amei as pessoas, adorava estar entre elas. Mas nunca gostei muito de ser observada, quando um olhar se perdia muito em mim, sentia-me incomodada. Também nunca fora nada que me excluísse do convívio social.

Percebi mudanças no meu comportamento há pouco tempo, talvez dois anos. Quando cheguei no Japão, percebi que chamava muita atencão. Eu sou uma mulher de porte médio, um pouco grande para os padrões japoneses, tenho os cabelos cacheados e a pele muito branca, coisa rara aqui no Japão. Eu tenho uma presença forte, por isso as pessoas me olham muito. Por viver numa cidade do interior, os japoneses daqui não estavam acostumados com estrangeiros, passei a ser assediada, eles queriam saber se meus cílios são meus, ou postiços, se meus cabelos são naturais, se faço tratamento para ter a pele muito branca, e etc. Meus filhos, são loiros, olhos claros. Para os japoneses, ver uma pessoa assim de pertinho, é exótico. Eles estavam acostumados a ver pessoas claras e olhos coloridos apenas no cinema e na televisão. Com o tempo isso foi desgastando-nos, algumas pessoas tiraram fotografias conosco. Eu não me sentia confortável, e isso foi me afastando do convívio social.

Outro barreira, ou incômodo é o fato de não dominar a língua. Eu sempre fui uma mulher independente, me virava sozinha, em todos os lugares: Escolas, hospitais, repartições públicas e na Imigração. Misturando inglês com japonês, estava indo bem. Mas realmente a necessidade de falar bem o Nihongo é fundamental. É horrível você não poder se comunicar, não saber se expressar, mesmo numa emergência, depender de um intérprete, que nem sempre fala extamente o que você disse.

A situação piorou porque passei por um desgaste emocional muito intenso e estressante. Fui injustiçada no meu trabalho, fui agredida por uma japonesa, e por não saber falar fui prejudicada. Ela inventou que eu a agredi, de forma tão violenta que cheguei a quebrar dois ossos da sua costela. Logo eu, que amo a paz. Indefesa, não pude fazer nada para mudar aquela situação, mesmo tendo algumas testemunhas. Japoneses não se metem em assuntos alheios, não querem compromissos, são omissos, nada solidários e amigos. Perdi o emprego, porque ela exigiu que eu pedisse desculpas em público, na frente dos chefes e funcionários. Eu sou uma pessoa orgulhosa, tenho brio. Não poderia pedir desculpas por algo que não fiz, fui injustiçada, ela sim deveria pedir-me desculpas, porque eu fui agredida fisicamente, humilhada por ser estrangeira. Meu marido aconselhou-me a pedir as desculpas e humilhar-me diante de todos, assumir que cometi uma agressão física, assim manteria meu emprego. Não poderia fazer isso, estava indo contra meus princípios, contra tudo que lutei durante minha vida: a Injustiça. Preferi ficar desempregada, não pedi desculpa.

Ganhei uma doença, desencadeada por uma vida comportamental agitada, ambiente estressante (Profissional e familiar), a vida estressante gerou um défciti bio-químico cerebral de neurotransmissores que culminou na ansiedade e na fobia social.

Fiquei traumatizada, não pude defender-me porque não sabia falar fluentemente o japonês. Então hoje, quando preciso conversar com um japonês entro em desespero. As mãos transpiram, meu corpo gela, tenho palpitações, distúrbios intestinais, fico ruborizada, tenho vontade de sair correndo.

Ultimamente não saio de casa, porque chamo muita atenção, os olhares deles me incomoda. Agora grávida, estou mais sensível. Minhas idas ao ginecologista é uma tortura, penso que vou morrer. Tenho muito medo, os médicos daqui são frios, falam estritamente o necessário, explicam muito pouco sobre a saúde do bebê e sobre a gravidez em geral, sinto-me como se eu fosse um gato, um cachorro fazendo consulta no veterinário...e meus filhos e marido não entendem. Acham que é frescura, que já passei dos limites, que pareço menina mimada. O apoio da família é fundamental para acalmar um portador de fobia social.

Recentemente me dei conta da fobia, deixei de fazer um curso de japonês, porque tenho medo de estar no meio de gente. Fiz muita pesquisa sobre o assunto, procurei um neurologista e ele indicou-me um psiquiatra, descobri que sofro dessa terrível doença.

Mas afinal o que é fobia social?

‘ É um transtorno caracterizado por uma intensa ansiedade em situacões do desempenho social“. Ou quando você é submetido a avliação de outras pessoas. Um medo desproporcional ‘a causa. O Fóbico sabe que o objeto da fobia não justifica tanto medo, mas mesmo assim não consegue evitá-lo.

Praticamente estou prisioneira na minha própria casa, evito sair, evito ser olhada e observada. Não vou a praia, a piscina e nem ao shopping. Agora meu bebê vai nascer, e só de pensar que vou precisar ficar dez dias na maternidade, entro em pânico, quase não durmo. Porque sei que meu intestino vai dar trabalho, porque vou precisar falar japonês, entender japonês, porque vou ficar exposta fisicamente a eles. Por mais consciência que posso ter sobre minha ansiedade e nervosismo, meu subconsciente age com mais força, deixando-me impotente para enfrentar essas situações, que para qualquer pessoa é tão simples.

Descobri que a fobia não está ligada a herança genética, ela se manifesta no decorrer da vida, raramente depois dos quarenta. Eu entrei nos casos raros, tenho mais de quarenta.

Não posso ainda fazer nenhum tratamento, devido a gravidez, mas recomendo a todos aqueles que sentem algum distúrbio, ansiedade, medo, manias, tristeza profunda, baixa-estima a procurar ajuda médica, buscar por um tratamento, pois o quadro tende a piorar, e você sofre muito mais. Não é nenhuma doença mental, você não é louco. Não deixe de se tratar por desconhecimento ou preconceito.

Sonia Lupion Ortega Wada
Enviado por Sonia Lupion Ortega Wada em 20/10/2008
Reeditado em 03/03/2023
Código do texto: T1237722
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