MEU AMOR PELOS CÃES.
ANA MARIA RIBAS BERNARDELLI.



Gosto de compartilhar com vocês as coisas que me acontecem. Mas descobri que nem sempre acreditam nos fatos que lhes conto aqui. Ou acreditam pelo metade. Ou lhes conferem uma dupla interpretação.
 
E eu entendo a dificuldade toda, porque há certas coisas que me acontecem, que eu mesma preciso fotografar para acreditar,  que realmente aconteceram.
 
Felizmente minhas histórias tem tido humor. Passada a fase do horror, Deus tem-me contemplado com humor. E se mais ninguém consegue rir, eu me divirto com as histórias que Deus prepara para me fazer rir. Sou também uma mulher de risos.
 
A história de ontem, tem um nome: Petrúquia, esse ser de 4 patas que atende pelo nome de Petras ou Tuka. Esse exemplar de raríssima espécie conforme os biólogos, veterinários e zootecnistas de plantão podem conferir pela foto superior, foi encontrada vagando nas cercanias da rodoviária. Deve ter caido de alguma bagagem e o dono, nem se deu conta. O fato é que, Silvia, minha filha, com vocação total flex para Ana Maria, encontrou o ser e o levou para a casa (que era dela).
 
Separada- Silvia- voltou para a minha casa, trazendo meia dúzia de cachorros de rua. Menos mal. Cachorros não sentem falta de pai, e falta por falta, eles agora teriam duas mães.
 
Como eu já tinha os meus, a incompatibilidade totalmente se fez. E fomos arrumando um dono aqui, outro ali, para os cachorros de Silvia. Sobrando essa, que por ser assim de uma beleza tão rara, está conosco até que a morte nos separe.
 
Pois eu cheguei segunda feira de viagem, com dor de garganta. Mas a notícia de que a Tuka não comia há 3 dias me fez sair da cama, ontem,  para levá-la ao vet, em Umuarama. As fotos são para que você creia no que vou contar.
 
Em Umuarama, Prontovet é o endereço certo para cuidar dos seus bichos de estimação (ou de indignação). Lá você encontra o Dr. Alceu, o Dr. Manuel, a Silvana, gente boa pra cachorro. E pra cão. E prá gato. Periquito e papagaio, ainda não conferi. Mas os caras são bons e amam bichos. 


 
Aqui estávamos nós a caminho, Tuka e eu. 

Cheguei, chegando: É “Babésia”- eu disse. E sugeri uma colheita de sangue para confirmar o “meu diagnóstico.” Às vezes, eu acerto.

Dr. Alceu, rindo,  me disse: “dessa vez, acho que você está errada. Você não viu essas tetonas cheias de leite, não?” E dessa vez o riso dele foi se alargando, porque era, finalmente, a vitória da ciência contra o empirismo dos brutos.
 
- “ Eita! Mas gravidez está descartada.” Eu disse.
- “ Ana, você já ouviu falar em gravidez psicológica?”
- “Em gente já. Em cachorro, nunca”. 
 
E aí começa o seguinte papo surreal:
 
-Ana, ela quer ser mãe. Ela está louca para ser mãe. E você tem que decidir: ou satisfaz o desejo dela ( foi assim que ele me falou) ou operamos para arrancar os ovários e retirar  essa carga hormonal que ela está recebendo em decorrência desse desejo. Uma coisa alimenta a outra.  
 
Quando fico nervosa, começo a rir, mas ele está falando sério e eu tenho que tomar essa decisão: permitir que ela seja mãe ou destruir de vez o seu sonho de maternidade.
 
- E aí? - ele me pressiona? - O que você decide?
- Eu decido que ela vai pra faca, agora. Ela tem o desejo de ser mãe e eu não tenho o desejo de cuidar das crias dela. Portanto, entre o desejo dela e o meu, eu fico com o meu.
- Não dá para operar com essa carga hormonal intensa. Temos que reduzir primeiro. Vamos fazer uns exames de sangue para dosar a taxa hormonal e até a data da cirurgia é o seguinte: não deixe nenhum bichinho de pelúcia por perto dela. Qualquer coisa que lembre um cachorrinho precisa ser afastada. Muita caminhada e compressa gelada.
 
Vocês acreditam que essas coisas me acontecem? Só acreditam porque a reportagem está bem documentada com nomes, com fotos e com diagnósticos científicos. Se isso não existisse seria “mais uma da caríssima Ana”, né Marília?
 
 Minha vontade é passar pela rodoviária e devolver esse ser para o seu lugar de origem. Mas quem não me deixa, enfim, é o homem do avião: “tu és eternamente responsável por aquilo que cativas.” Se sou, então assumo: sou.


 
E já que estamos falando em cachorros, aproveito para inserir aqui essa foto acima que mostra Nino, o Italianinho. Escrevi uma crônica “Meu Outono em Roma” contando minha história de amor com Nino, esse ser de 4 patas da foto, de cidadania italiana. Pois não é que houve quem pensasse que Nino era um homem? Não era. Na foto, você pode conferir: à esquerda, a dona do Nino ( Rita Pavone), ao lado eu, com o Nino no colo, e no detalhe o meu cãozinho que já havia morrido, o Tokinho. As colunas eruginosas da Praça de São Pedro, em Roma, compõem o cenário.
 
Essas coisas só acontecem comigo. Mas de agora em diante, já que a profissão de jornalista está para sofrer uma mudança, começarei a me preparar para ela: com a minha máquina na bolsa. Porque jornalista que é bom, faz a matéria e mostra a foto. Mas o que eu queria dizer mesmo é que mato a cobra e mostro o pau. Sem nenhuma elegância.