Série "Ditados na berlinda" 11: Quem procura, acha?

Cem por cento das mulheres acham que são ou já foram traídas por seus namorados, noivos ou maridos algum dia. Exagero típico feminino! Está provado estatisticamente que apenas 99,99% dos homens traem as mulheres. Portanto, existe uma confortável margem de 0,01% na qual seu homem pode estar. Assim, não há motivo para preocupações.

Mas digamos que você, mulher, é uma dessas exageradas. Existem duas atitudes que podem ser tomadas: uma é apenas relaxar, pois se a realidade for mesmo essa, não há o que fazer. Estamos todas no mesmo barco, e essa é a natureza masculina, com a qual devemos apenas nos conformar e seguir adiante como se as protuberâncias que se avolumam em nossa cabeça fossem apenas um penteado novo. E, pensando bem, se tantos homens traem, deve ter uma porcentagem grande de mulheres que também o fazem... Mas se você é: 1. daquelas fiéis e inconformadas, 2. das que buscam comprovação científica, ou 3. apenas das curiosas, vai procurar. E como diz o ditado: quem procura, acha.

Certo, você achou. Não vou falar de sutilezas que a deixam ainda mais na dúvida, como um leve perfume diferente na sua camisa, um email engraçadinho mandado só para ele com um beijo ou o fato dele nem sempre atender ao celular quando está com você depois de checar o número no visor; mas de evidências inegáveis – por exemplo, uma foto dele abraçado com outra mulher na entrada de uma cidade romântica à qual vocês estão programando ir há tempos, mas ainda não foram. E bem naquele fim de semana em que ele disse que ia visitar uma tia doente em Nhocuné da Serra, e que não queria lhe perturbar com visitas familiares protocolares, assim seria melhor que ele fosse sozinho. Iria num pé, voltaria no outro. Ele só não comentou que o pé se afundaria na jaca pelo caminho.

Começa a primeira fase, a do tremor. Seu corpo treme involuntariamente, você olha aquela foto inúmeras vezes como se para se certificar de que não é uma montagem em Photoshop. Se você é das impulsivas ou estiver de TPM neste dia, vai pegar o telefone e imediatamente ligar para o pobre coitado, não importando horário, e descascar o abacaxi aos berros, pondo fim na relação sem dar-lhe chance de explicação. Mas, para dar continuidade e sentido ao texto, vamos falar das que conseguem respirar antes disso.

Assim que o tremor passa, segue-se a fase da auto-ilusão. Aquela mulher deve ser a neta mais nova da irmã da tia doente de Nhocuné da Serra. Ou a filha de algum primo que ele não via há tempos. O lugar não é aquele que você pensa, deve ser Nhocuné mesmo, afinal você não conhece a tal cidade...

Mas quando a ficha cai, segue-se a fase do questionamento. Por quê? E, imediatamente ligada a esta fase, a da comparação: será que é porque é mais nova, com tudo em cima?... ou porque é mais velha, mais experiente?... Olha melhor, e se afunda: é mais bonita! É mais magra!! É mais jovem!!! Sua auto estima despenca e fica mortalmente ferida. E vem a fase posterior, que é a da tristeza profunda.

Esta é a fase negra da coisa toda. Choro compulsivo primeiro, chorinho constante depois. Não consegue dormir, não consegue trabalhar, não consegue estudar, não consegue comer. Bem, pelo menos nem tudo é tão terrível assim, porque em uma semana você perde aqueles insistentes dois quilos extras. E sem ginástica.

Então as amigas entram em cena - na verdade já entraram desde o primeiro minuto, mas só agora você consegue ouvi-las. Seguem-se as frases clássicas, que as amigas, na melhor das intenções, costumam dizer: ele foi um idiota, não sabe o que está perdendo, você merece coisa melhor, ela não chega aos seus pés, você dá de dez a zero nessa baranga gorda... A história é contada e recontada tantas vezes, e com tantos detalhes, que você passa a achá-la natural, e paga com prazer a sua astronômica conta de telefone no final do mês.

Agora, com a história já assimilada, cinco quilos mais magra e com a auto estima levantada pelas santas amigas, você se olha no espelho e percebe mesmo que é melhor do que a outra. Vai ao cabeleireiro, à manicure, às compras; ou, se o dinheiro não dá, apenas toma banhos mais demorados e compra um batom novo. Segundo as pesquisas, batom novo é um verdadeiro guindaste para a moral feminina. Sai às ruas e começa a prestar atenção à sua volta... e às cabeças masculinas que se voltam à sua passagem. E de repente a vida começa a ressurgir, até que você percebe que pode se apaixonar de novo por outra pessoa, ou até mesmo aceitar seu amado traidor de volta!

Mas aqui fica um alerta: já que é da natureza masculina contabilizar conquistas, sem necessariamente envolver amor verdadeiro, pare de procurar. Por dois motivos: primeiro porque, quem procura, realmente, acha. E segundo porque, mesmo que você não ache, isso não garante a fidelidade do seu amado. A não ser que ele seja um dos 0,01%. Um daqueles protegidos pelo Ibama, que fica literalmente (e nunca em sentido figurado) pulando de galho em galho com uns poucos micos-leões dourados.