o dia em que meus pais casaram

“Lima, cadê o fotógrafo?”, indagava em tom imperativo a que hoje é minha mãe. O bigode bem feito de Lima, o que hoje é meu pai, se desconcertava tal qual sua paciência com a demora do fotógrafo. “Você esqueceu-se de confirmar o fotógrafo Lima?”, indagava mais irritada Rosália, que na época era chamada de Rosa.

O que seria um absurdo! Como é que se esquece de confirmar o fotógrafo no dia do casamento?

Ele, quase trinta; ela, um pouco depois dos 15 (se não fossem meu pai, eu diria que ele era um pedófilo, mas olha o respeito João!). Voltando ao casório, a pequena igreja do Bairro Lomanto mal cabia os fiéis, e neste dia então. Mesmo chovendo, a rua que não era asfaltado tava um lamaçal só, mas, assim, como hoje, na época em menor proporção, eles tinham seu prestígio.

“Lima! O Fotógrafo não chegou!”, irritava dizia a guria. “Mas eu confirmei!”, argumentava sem muito sucesso (acho que foi por isso que pai se tornou um articulista de sucesso, hoje convence qualquer pingüim a tomar picolé).

Soube depois, através de fontes não confiáveis, como meu tio Tchan, que minha mãe foi carregada pelo meu vôdrasto (minha avó materna casou com um cara que não era meu avô, entendeu?) na cacunda. Ô pai! Como é que o senhor esquece-se do fotógrafo?

Bom, o fotógrafo não chegou. Como tinha um noivo e uma noiva, um pastor, e muita gente pra assistir, não deu mais pra adiar o evento. Casaram-se, tiveram três filhos, fizeram muitas dívidas, e continuam felizes.

Que ela não saiba. Mas acho que foto e casamento não combinam com mãe. No casamento do meu tio Dinda, ela vestiu a tal indumentária, posou para fotos, tudo legal né? O fotógrafo perdeu as fotos. Desiste mãe. Mas valeu a pena naum?!

Parabéns José Lima e Rosália Galdina pelos 26 anos de acasamento.