MESA DE BAR...

 

    Não posso deixar de homenagear uma das maiores testemunhas dos acertos, tropeços, bobagens, vitórias e derrotas da minha vida. Falo da mesa de bar. Apesar de não ser boêmio, confesso ter perdido a conta das amigas mesas que já ouviram minhas queixas, meus sonhos, confissões e desenganos.

     Resumindo, elas me conhecem melhor do que muitos dos que estão próximos a mim. Em várias de minhas crônicas cito situações ocorridas num querido e saudoso barzinho mas, tenho cometido uma grande injustiça ao não falar das mesas de um bar.

     É nelas que apoiamos nossos cotovelos, derramamos preciosas gotas de cerveja, limpamos dedos engordurados e sujos de ketchup enfim, companheiras silenciosas que não resmungam, nos apoiam e injustiçadas, não reclamam quando nas inesquecíveis noitadas damos mais importância às cadeiras do que as companheiras mesas.

     Se as mesas falassem, já imaginaram quantas histórias não teriam para contar ? No meu caso por exemplo, muitas das decisões importantes que tomei na vida, foram compartilhadas com silenciosas e boas ouvintes mesas que, nem ao menos puderam sinalizar quando eu estava certo ou errado.

    Já vi pessoas chorararem sobre as mesas, assim como também certa vez, uma senhora desastrada ou distraída, derramou um prato de sopa quente numa delas. E aqueles que fumam e deixam cair a brasa do cigarro bem do meio de indefesas mesas. ?

     Mesas já ouviram histórias, presenciaram fatos e creio até que o Cabral, quando decidiu descobrir o Brasil, se é que realmente decidiu, estava com os cotovelos apoiados numa delas.

    De repente, senti uma enorme curiosidade em descobrir quem inventou a mesa ? Será que foram os chineses, os persas ou os egípicios ? Não importa quem descobriu ou inventou a mesa. O importante é que elas, as mesas, são quem sabe, das maiores injustiçadas de toda a história da humanidade. Mas falo de mesas de bar.

     Conheci, nessa minha vida atribulada, vários tipos de mesa assim como , é claro, estive em vários bares. Entretanto, para homenagear todas as mesas que já passaram pela minha vida, gostaria de destacar uma em especial. Uma que conheci há muitos anos atrás.

     E nosso primeiro contato foi motivado pela comemoração do aniversário de um colega. Lembro-me bem do prato servido. Galeto com fritas e chope estupidamente gelado.

    O    detalhe pitoresco dessa lembrança é que éramos doze pessoas, entre homens e mulheres e o garçom trouxe onze tulipas de chope e um copo de laranjada. Não é preciso dizer para quem foi a laranjada.

    É isso , sim ! Foi pra mim! E o motivo de ter pedido laranjada era por estar tomando um antibiótico, desses que são inimigos mortais das bebidas alcoólicas. É claro que fui motivo de piadas e depois da terceira rodada de chopes, o aniversariante pediu uma garrafa de vinho verde, com a desculpa de que era para brindar aquela data especial.

    Resolvi esquecer as recomendações médicas e também peguei uma taça e brindei. E lógico, dei duas boas goladas no vinho.

    Não sei o que meus amigos pensam do vinho verde. Eu simplesmente adoro. E tem um grande detalhe, geralmente em casa, na tradicional macarronada dos domingos consigo beber meia garrafa sozinho.

    Mas beber meia garrafa de vinho verde em casa é uma coisa e num bar, proibido pelo médico, entupido de antibióticos que são inimigos mortais de bebidas alcoólicas, é outra coisa completamente diferente.

    Não satisfeito, arrisquei provar uma ou duas tulipas de chope, nem me lembro. Afinal era aniversário de um amigo e aniversários a gente comemora só uma vez por ano. (Mulheres costumam comemorar de cinco em cinco ou dez em dez, nunca tive certeza).

    O fato é que a mistura não me fez muito bem. Comprimido antibiótico, vinho verde e chope, não combinam. Não devia ter tomado os antibióticos.

     Aos poucos fui me sentindo indisposto. Com a cabeça rodando, forte enjôo e como já conhecia bem os sintomas, em pouco tempo se não tomasse providências, poderia provocar uma tragédia naquele ambiente.

     Temendo uma situação constrangedora, pedi uma garrafinha de água mineral com gás e o resultado foi simplesmente explosivo. Consegui devolver para aquela infeliz e indefesa mesa grande parte do galeto e das batatas fritas. Uma tragédia, uma vergonha!

     Sorte é que o garçom veio em meu socorro, limpou a sujeira e nos apresentou a conta. Fui o último a deixar aquele bar, mesmo porquê, envergonhado, fiz questão de pagar a maior parte das despesas.

     Antes de sair, pedi desculpas àquela triste mesa e sem que ninguém percebesse, fiz a ela uma confissão histórica......”nunca mais vou misturar comprimido antibiótico com água mineral com gás.....”

 

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 24/10/2008
Reeditado em 05/02/2013
Código do texto: T1244956
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